Dois amigos – Larry e Richard – trabalham numa reconhecida companhia de seguros norte-americana. Ao descobrirem uma fraude fiscal gigantesca nas contas da empresa, são convidados a irem passar uns dias à majestosa casa de férias do patrão, plantada à beira-mar. Preparados para um fim-de-semana de arromba, o que eles não sabem é que acabaram de destapar um esquema interno das hierarquias superiores para desviar dinheiro e que o convite é tudo menos amigável. O objectivo? Fazer com que eles não voltem… vivos. Mas os planos de Bernie Lomax, o mafioso patrão genialmente interpretado pelo multi-premiado actor de teatro Terry Kiser, dão para o torto, originando uma sucessão de acontecimentos surreais que tornaram “Fim-de-Semana com o Morto” uma das mais amadas comédias da década de oitenta.
Divertido, hilariante e idiota. Qual o vintenário ou trintenário deste país que não esboçou alguns sorrisos quando descobriu pela primeira vez as aventuras quase autopsiais de Andrew McCarthy e Jonathan Silverman? Ou os prazenteiros “one-liners” de Larry, que incluíram frases que ainda hoje permanecem no ouvido como “E que tal fingirmos que ele não está morto, só por um bocadinho assim” ou “Que raio de anfitrião é que nos convida para sua casa e morre na mesma altura?”? Realizado por Ted Kotcheff, reconhecido na indústria como o responsável pela criação do mito “Rambo” – que é, obviamente, o grande êxito da sua carreira -, “Weekend at Bernie’s” é uma comédia semi-negra sobre um cadáver… com vida. Um género ainda hoje inexplorado, factor que confere à fita a sua originalidade intemporal, transformando-o em entretenimento jovial revivalista a cada novo visionamento. As travessuras pelas quais o trapalhão Larry e o atrapalhado Richard passam para fazer de “vivo” o assassinado Bernie são tão absurdas e utópicas como alegres e portentosas. Para a história, ficou aquela que provavelmente foi a melhor interpretação da história do cinema de uma personagem morta. Pena que não haja registo da existência de nenhuns bloopers das gravações, algo que seria um extra obrigatório numa futura edição em disco digital.
Entre as inúmeras curiosidades que envolveram a rodagem do filme, destaque para as várias costelas partidas do duplo de Terry Kiser na cena do lago, onde “Bernie” foi arrastado por um barco, chocando contra vários obstáculos. Poucos sabem mas a casa de praia onde a acção se passa foi construída unicamente para o filme, sendo destruída logo após o final das filmagens com mais de trinta milhões de dólares arrecadados na bilheteira norte-americana, "Weekend at Bernie's" tornou-se um dos mais rentáveis do ano de 1989 numa relação custo/proveito, bem como o filme mais alugado nos videoclubes norte-americanos durante os primeiros dois anos da década de noventa.
As repercussões cinematográficas deste sucesso foram várias. Para começar, uma sequela disparatada alguns anos mais tarde, que misturou o mesmo triângulo cómico com tradições voodoos e uma linha narrativa com pouca margem de manobra. Bernie Lomax é raptado na morgue por ex-colegas de trabalho, que pretendem conseguir enganar um banco, levantando dois milhões de dólares da conta do defunto Bernie, como se este estivesse vivo. O banco, esse, está obviamente situado numa ilha paradisíaca onde, surpresa das surpresas, Larry e Richard passam férias. Se o original era bem mais divertido do que idiota, da sequela não podemos dizer o mesmo.
Mas “Weekend at Bernie’s” ficou no imaginário de muitos, tornando-se uma pequena fita de culto entre amigos e colegas que o viram juntos. As referências em obras posteriores são várias e em registos diversos. Sem qualquer ajuda de bolso, irrompem-me agora os episódios de “Friends” em que Chandler menciona o filme ou em que descobrimos que é este o filme favorito de Rachel, a personagem interpretada por Jennifer Aniston. Ou o episódio de “The Simpsons” intitulado “Weekend at Burnsie’s”. Entre muitas, muitas outras referências directas ou indirectas. Por fim, temos o rumor que surgiu o ano passado em alguns sites norte-americanos de cinema que um terceiro capítulo da saga estaria a ser preparado pelo produtor indiano Ashok Amritraj, o mesmo de “Death Sentence”, “Bandits” ou “The Boondock Saints”. Felizmente – ou não -, esse boato nunca foi confirmado, não tendo muito provavelmente passado de pura especulação.
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