sábado, outubro 22, 2005

Recordar é Viver: O Futuro do Cinema


O Futuro do Cinema
Por Miguel Batista, originalmente postado no dia 9 de Setembro, no seu blogue, Black Spot.

" Estamos em 2005 e o cinema surgiu há mais de 100 anos. Arte relativamente recente, nova em comparação com tantas outras, desde a pintura (cujas raízes remontam à pré-história) à escultura, arte proveniente também da idade da pedra. Talvez por isso, seja altura de se olhar para trás, mas principalmente, supor o que, de futuro, nos espera neste vasto campo da arte/cultura.

Vão desabrochando obras (alguns mesmo produtos) completamente filmados em estúdio, uma vez que filmar um filme em estúdio é muito mais barato, obviamente, do que filmar no exterior. Entre esses obras, encontram-se os relativamente recentes Sky Captain e Sin City, ambas obras razoáveis, que funcionam como entretenimento eficaz. Por agora, é engraçado ver um filme e pensar que os únicos elementes reais lá presentes são os actores e alguns objectos, mas futuramente, será assim tão engraçado constatar que parte dos filmes que estream são filmados em estúdio e cujos cenários e tudo o resto, à parte dos actores, é criado digitalmente, não havendo portanto interacção com o mundo exterior? (...)

(...) porquê recriar o mundo recorrendo à tecnologia, quando este existe e está pronto e disposto a ser filmado? Para se poupar dinheiro? É verdade, poupar dinheiro é a principal razão pela qual se vai adoptar cada vez mais os métodos green-screen ou blue-screen. Então e será que assim não se perderá a alma do cinema, que faz com que este esteja em contacto com a realidade, e, em muitas vezes, apenas se baseia nela para a enfatizar e criar algo mais fantástico, tudo isto por questões económicas? Não me parece justo, para nós espectadores, que gerações futuras de pessoas na mesma posição que nós não possam desfrutar de um Lost In Translation ou um 21 Grams, ambos filmes do ano passado, que retratam a vida tal como ela é, não precisando de recorrer a nenhuma tecnologia, usufruindo apenas do seu argumento e da sua simplicidade para chegar até ao público. (...) Com argumentos fracos, e vivendo apenas dos efeitos especiais, do que vai viver o cinema?

Outra coisa que depende do rumo que lhe derem, se para o bem ou para mal, é a adopção do formato digital em vez das clássicas películas. Tivémos recentemente um exemplo bem concreto de êxito que foi Collateral, quase totalmente filmado em digital, não perdendo assim as sensações que o cinema provoca em nós, e permitindo ao espectador respirar cinema no filme em questão. Tal se deve, é também verdade, à mestria de Mann e ao trivial de cores criado pela fotografia. Na melhor das hipóteses, o formato digital pode servir apenas para alguns casos, continuando a película a liderar o ranking de popularidade, pior será se o digital substituir a película, algo em que nem pensar é bom. Afinal quem é que não gosta de ver alguns riscos na película quando um filme é exibido? Isso faz ou não parte do cinema? Eu cá acho que faz, e o cinema dificilmente poderá viver sem isso, pois se esta desaparecer, o cinema deixa de ser uma arte para ser algo que não tem um nome deifinido, que se limita a criar anúncios e videclip, mas com uma ligeira diferença na duração.

Onde quero eu chegar com isto tudo? Que o futuro do cinema se deve a escolhas que têm de ser tomadas agora, e têm de se ser bastante prudente, não caindo em falsas ilusões, como a de gastar menos dinheiro e facturar mais, mas em vez de uma filmagem de um prédio apresentar também um prédio sim, mas que afinal se resume a pixels, que não existe, portanto. O futuro do cinema pode ou não ser promissor, tudo depende de quem está à frente dele e das escolhas que fizer agora. Mas lembrem-se, não destruam o cinema por motivos económicos, pois aí ele deixa de ser cinema para passar a ser a fonte de rendimento de algumas famílias. Há coisas que o dinheiro não compra, ou melhor, não deveria comprar. "

http://miguel12.blog-city.com/o_futuro_do_cinema.htm

1 comentário:

Anónimo disse...

paisagens naturais não são essenciais para se fazer umb om filme. o expressionismo alemão esteve aí para provar isto.

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