domingo, dezembro 18, 2005

Recordar é Viver: Cinema e Violência

Por Francisco Mendes, no dia 30 de Julho de 2005, no seu blogue, Pasmos Filtrados.

"Uma bela fracção de individualidades considera que existe uma relação entre cinema e violência. Muitos defendem que certas películas (“Pulp Fiction”, “Raging Bull”, “Clockwork Orange” e mais recentemente “OldBoy”) incentivam a prática de vários tipos de vandalismo.Nos anos 70, um caso chamou a atenção. Depois de verem o filme de Kubrick intitulado "Clockwork Orange", um grupo de rapazes saiu de carro e tentando imitar os personagens do filme, deram uma violenta pancada na nuca de uma pessoa que passava na rua, matando-a. Na Inglaterra proibiram o filme, e as críticas não se fizeram esperar.

Eu pertenço a esse grupo de pessoas que abomina a censura. A questão da violência é extremamente complexa e sensível, mas apontar o cinema como gerador de violência é tão ridículo para mim como quando rotulavam o rock de música associada ao diabo.

A educação começa em casa. Os papás demasiado alienados pelas suas actividades olvidam a responsabilidade educacional que têm para com os filhos. A percepção e distinção entre bem e mal deve ter os primeiros passos nos nossos lares. Os pais têm a incumbência primordial de gerar bons alicerces e escudos nos seus petizes para estes enfrentarem de forma sadia o mundo e seus devaneios.Os psiquiatras dizem que uma em cada quatro pessoas tem desequilíbrios mentais. Torna-se óbvio que certas pessoas ensandecidas, fervilhando violência no seu interior, poderão obter inspiração maligna em qualquer lugar, seja no cinema, em casa, na escola, em concertos e até em jogos de futebol. O que acho gravíssimo é desejarem limitar a liberdade criativa de um autor, imputando-o pelas acções de outrem. Cada cabeça, sua sentença. Todo o ser humano é responsável pelas suas acções.

Com certeza existem múltiplos e diversos filmes portadores de uma violência vulgar e medíocre, no entanto também existem obras-primas com uma carga visual e emocional bastante fortes. Acho bizarro acusar filmes (sejam eles “Old Boy”, “Pulp Fiction” ou “Clockwork Orange”) de invólucros de violência banal sem nunca os terem sequer visionado, ou evidenciarem preguiça na análise da respectiva peça de Arte. Das duas uma: ou não estamos a alcançar o “Quadro Geral” ou então é tudo uma questão de educação e cultura cinematográfica. Um dos filmes mais violentos de sempre, “A Paixão de Cristo”, foi criticado pela sua “violência banal e gratuita”. Foi visionado por um texano (Dan Leach, 21 anos) que após a projecção do filme procurou as autoridades para confessar o assassinato de uma mulher (Ashley Wilson) de 19 anos que estava grávida dele (e esta, hein?). Leach contou que matou Wilson porque ela estava grávida de um filho seu e ele recusava prolongar a relação que tinham. Ashley Wilson foi encontrada morta no apartamento, ao lado de um bilhete falando da sua depressão, mas Leach disse que preparou a cena para dar a impressão de suicídio. Pela ordem de pensamento de certas pessoas, o culpado deste assassinato seria porventura... Tarantino não?! É óbvio que não. É evidente que existem pessoas desequilibradas com sentimentos negativos efervescentes, com deploráveis fundações emocionais.

O código Hays de censura, que limitava a apresentação de sexo e violência nas telas de cinema, foi removido em 1968. A violência já foi pensada por teóricos e cineastas como uma experiência fundamental da Sétima Arte, uma experiência intimamente ligada à própria estrutura do fluxo audiovisual. As imagens violentas produzem um certo sobressalto no espectador. Esse sobressalto de sensações é criado pela associação de imagens mais líricas e poéticas com imagens absolutamente violentas e inesperadas, a poesia extraída dessa associação inesperada.Um choque sensorial, um soco visual capaz de levar a um entendimento. A violência necessária para sairmos da inércia do hábito, dos pensamentos habituais. Entregues à nossa "bela alma" e à rotina, pensamos muito pouco. O filósofo francês Henri Bergson chega a comparar o "homem do hábito" à vaca no pasto, ruminando satisfeito, grau zero de pensamento.

“Clockwork Orange” ou “The Shining”, ambos de Stanley Kubrick, são filmes que demonstram cabalmente como o cinema vai muito além da mera experiência audiovisual. O seu profundo significado e sátira não serão assimilados pelo comum moviegoer. Ou seja, como a maioria da audiência sairá da sala com pensamentos superficiais, matutando na violência e olvidando a perspicaz mensagem, deveríamos limitar o génio artístico, porque alguns não o captam? Qual é o objectivo dessa censura? Evidenciar um ócio analítico e transformar o cinema numa substância para obtusos. Será este o mesmo género de indivíduos papalvos e herméticos, que aplaude o oco filme pipoca de Verão? Vamos matar a concepção de arte, porque a maioria pautada por uma ignóbil ignorância, prefere nutrir o estômago em detrimento do cérebro?Foi também graças a isto que o cinema de ficção científica passou a ser sinónimo de retardado. Pretendem adelgaçar o poder de reflexão da Sétima Arte, até este sumir.Que me desculpem os herméticos que sofrem de ócio e ausência de faculdade analítica, mas permaneçam ruminando no pasto e mantenham-se longe de uma sala de Cinema. Reconheçam a vossa inaptidão, o vosso alcance é limitado... ou nulo. "

http://pasmosfiltrados.blogspot.com/2005/07/cinema-e-violncia.html

1 comentário:

Anónimo disse...

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