quinta-feira, agosto 10, 2006

Miami Vice (2006)

Michael Mann. Só ele poderia resistir ao derivado nostálgico deixado por “Miami Vice” na memória e intelecto de milhares de fãs. Sem receios, Mann consegue fugir ao nível frequente deste género de adaptações e transformar a obra televisiva de todas as idades, num filme negro, irrequieto e cheio de classe, apenas acessível a alguns. Longe de chegar ao nível de “Heat” ou “Collateral”, “Miami Vice” é, ainda assim, um autêntico poço de oxigénio, no que toca a adaptações cinematográficas de conceituadas séries de outros tempos.

Mann acaba mesmo por ser o maior trunfo de toda esta história. Cheio de pujança e com uma resistência inolvidável às exigências de Hollywood, Mann filma “Miami Vice” com um estilo inconfundível e acrescenta-lhe pormenores absolutamente brilhantes e subtis, invés das já famosas cenas memoráveis de outros filmes. Das lágrimas de Gong Li durante o acto sexual, à animosidade espelhada através do olhar da personagem de José Yero, Mann recria-se de uma forma controlada, mas também limitada de movimentos. Porque o nome “Miami Vice” acarreta também algumas obrigações e restrições a nível argumental. E é o conceito argumentativo que acaba por “cortar as pernas” a Mann.

Sonny (Farrell) e Ricardo (Foxx) são uma dupla de polícias de Miami que se vê forçada a trabalhar como agentes infiltrados para vingar a morte de um amigo, e recuperar uma missão do FBI que parecia ter ido por água abaixo, quando uns quantos agentes são descobertos e assassinados. A trama simples não permite muita margem de manobra na qualidade intrínseca do filme, mas Mann salva “Miami Vice” do rótulo de banal, com a sua apurada, mas despreocupada técnica de filmagem, e um maravilhoso trabalho na criação de ambientes e atmosferas. Infelizmente, e cada vez mais comum nas obras deste, os diálogos são algo inábeis e inócuos. Só que a filmar “acção”, ninguém o faz como Mann.

No que toca ao elenco, tanto Colin Farrell como Jamie Foxx cumprem o que lhes é pedido, mas ficam muito aquém do que poderiam ter feito. A surpresa é mesmo Gong Li, que numa personagem bem distante da sua personalidade, consegue com simples olhares transmitir um “camião” de emoções e sentimentos. Mais era difícil pois todas as personagens são pouco aprofundadas e previsíveis.

“Miami Vice” é, então, um filme com as mais variadas falhas. Das cenas despropositadas (a sequência inicial por exemplo), passando pelo fraco estudo das personagens e terminando no argumento limitado, “Miami Vice” é, mesmo assim, um filme acima das espectativas, muito devido à classe de Michael Mann. Um risco aceitável, mas que fica claramente atrás do seu anterior filme, “Collateral”, em que este dividia tarefas com um magnífico Tom Cruise.

11 comentários:

Dora disse...

Benvindo Knox! As férias foram boas?
Tens muitos posts meus antigos para pores em dia! Ehehehe

Ainda não vi o Miami Vice mas quero ver se vou ver, embora não esteja em pulgas!

Juom disse...

Estamos plenamente de acordo quanto a este Miami Vice. Nada mau, mas longe do melhor que Mann tem para oferecer...

Abraço!

Anónimo disse...

Sim, está de facto longe do seu melhor mas ainda assim é bom entretenimento para esta época do ano :).

Abraço

brain-mixer disse...

O que eu gostei de saber foi que Mann se baseou no ambiente GTA (dos videojogos) para criar os comportamentos humanos, não o fazendo muito certinho e bonitinho como na série. Parece que foi esse conceito que ele apresentou aos estúdios que os convenceu a seguir em frente...
Ele mesmo o confirmou. Estará ele a preparar-se futuramente para a adaptação desta saga da Rockstar?? Eu não me importaria nada!

André Carita disse...

bom regresso knoxville! :)
Quanto a este filme achei bastante bom mas o grande problema é a inevitável comparação a Collateral que ganha naturalmente vantagem!
As interpretações foram bastante credíveis a meu ver mas lá está, se formos a comparar Foxx/Cruise e Foxx/Farrell, naturalmente que Miami Vice fica a perder.
Mesmo assim nota-se o dedo de Mann em toda a obra, a começar pela escolha das músicas e a acabar nas cenas de acção (tiroteios) extremamente bem conseguidos!
Eu gostei bastante, apesar de admitir que Collateral foi superior em muitos aspectos!

Um abraço!

Carlos M. Reis disse...

Dora, já tive a dar uma olhadela. Andas a dar numa de feminista :) Beijinhos!

Paulo, nem mais. Um abraço.

Mário, poderia ter sido bem melhor. Saí desiludido. Um abraço!

Brain, não me parece que tal aconteça. E se acontecer que seja para tão cedo. Mann já vai nos seus 60, já tem 3 ou 4 projectos para os próximos anos e Miami Vice não foi um sucesso tão estrondoso que o leve a pegar nessa ideia. Mas veremos. Se acontecer será bom.

André, concordo com tudo o que dizes. Farrell, a meu ver já deu o que tinha a dar. Nesta altura é um actor extremamente esteriotipado e previsível. Um abraço!

MPB disse...

Eu pessoalmente considero-o o melhor filme de MANN juntamente claro com HEAT.
É uma obra de autor, e um grande passo numa nova linguagem e tecnica.

Cumps

Carlos M. Reis disse...

Longe de concordar contigo ne-to. Heat é soberbo, e Collateral é excelente. Para não falar de tantos outros. Miami Vice é banalissímo para o que Mann nos habituou. Um abraço.

travis disse...

Sinceramente não considero que Miami Vice seja o tipico filme de Verão, uma vez que o blockbuster de Verão foi inventado pelo Don Simpson e Jerry Bruckheimer e segue uma fórmula que não foi seguida por Michael Mann. A forma como filma, a fotografia está excelente. A dupla Colin Farrel e Jamie Foxx lembram me os heróis do cinema de outrora: duros e calados (Clint Eastwood fez fama a matar muito e a falar pouco)na minha opinião os heróis de acção não tem de ter forçosamente uma grande vida interior e um multiplicidade de sentimentos etc e tal (hoje é que todos os personagens tem que ser ricos interiormente). O filme tem estilo, tem bons actores que fizeram o que lhes foi pedido (imaginem que o Colin Farrel dava uma de Phillip Seymour Hoffman no Capote? no minímo risivel).
Enfim devo dizer que adorei o filme e acho um pouco idiota a comparação com o Colateral, uma vez que o Heat está muito mais próximo do Miami Vice do que o Colateral.
X

travis disse...

PS: Miami Vice é banal comparado com o Heat e o Colateral, mas estes dois são banalissimos comparados com o Ultimo dos Moicanos. Cada filme é um filme e deve ser visto na sua singularidade.
X

Carlos M. Reis disse...

De acordo com a tua útlima afirmação X, mas nada é assim tão singular. Se podes criticar algo quando tens conhecimento do que o envolve, e isso inclui outros filmes, trabalhos do realizador, etc... etc...

Cumprimentos X e Helena.

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