Michael Mann. Só ele poderia resistir ao derivado nostálgico deixado por “Miami Vice” na memória e intelecto de milhares de fãs. Sem receios, Mann consegue fugir ao nível frequente deste género de adaptações e transformar a obra televisiva de todas as idades, num filme negro, irrequieto e cheio de classe, apenas acessível a alguns. Longe de chegar ao nível de “Heat” ou “Collateral”, “Miami Vice” é, ainda assim, um autêntico poço de oxigénio, no que toca a adaptações cinematográficas de conceituadas séries de outros tempos.
Mann acaba mesmo por ser o maior trunfo de toda esta história. Cheio de pujança e com uma resistência inolvidável às exigências de Hollywood, Mann filma “Miami Vice” com um estilo inconfundível e acrescenta-lhe pormenores absolutamente brilhantes e subtis, invés das já famosas cenas memoráveis de outros filmes. Das lágrimas de Gong Li durante o acto sexual, à animosidade espelhada através do olhar da personagem de José Yero, Mann recria-se de uma forma controlada, mas também limitada de movimentos. Porque o nome “Miami Vice” acarreta também algumas obrigações e restrições a nível argumental. E é o conceito argumentativo que acaba por “cortar as pernas” a Mann.
Sonny (Farrell) e Ricardo (Foxx) são uma dupla de polícias de Miami que se vê forçada a trabalhar como agentes infiltrados para vingar a morte de um amigo, e recuperar uma missão do FBI que parecia ter ido por água abaixo, quando uns quantos agentes são descobertos e assassinados. A trama simples não permite muita margem de manobra na qualidade intrínseca do filme, mas Mann salva “Miami Vice” do rótulo de banal, com a sua apurada, mas despreocupada técnica de filmagem, e um maravilhoso trabalho na criação de ambientes e atmosferas. Infelizmente, e cada vez mais comum nas obras deste, os diálogos são algo inábeis e inócuos. Só que a filmar “acção”, ninguém o faz como Mann.
No que toca ao elenco, tanto Colin Farrell como Jamie Foxx cumprem o que lhes é pedido, mas ficam muito aquém do que poderiam ter feito. A surpresa é mesmo Gong Li, que numa personagem bem distante da sua personalidade, consegue com simples olhares transmitir um “camião” de emoções e sentimentos. Mais era difícil pois todas as personagens são pouco aprofundadas e previsíveis.
“Miami Vice” é, então, um filme com as mais variadas falhas. Das cenas despropositadas (a sequência inicial por exemplo), passando pelo fraco estudo das personagens e terminando no argumento limitado, “Miami Vice” é, mesmo assim, um filme acima das espectativas, muito devido à classe de Michael Mann. Um risco aceitável, mas que fica claramente atrás do seu anterior filme, “Collateral”, em que este dividia tarefas com um magnífico Tom Cruise.
11 comentários:
Benvindo Knox! As férias foram boas?
Tens muitos posts meus antigos para pores em dia! Ehehehe
Ainda não vi o Miami Vice mas quero ver se vou ver, embora não esteja em pulgas!
Estamos plenamente de acordo quanto a este Miami Vice. Nada mau, mas longe do melhor que Mann tem para oferecer...
Abraço!
Sim, está de facto longe do seu melhor mas ainda assim é bom entretenimento para esta época do ano :).
Abraço
O que eu gostei de saber foi que Mann se baseou no ambiente GTA (dos videojogos) para criar os comportamentos humanos, não o fazendo muito certinho e bonitinho como na série. Parece que foi esse conceito que ele apresentou aos estúdios que os convenceu a seguir em frente...
Ele mesmo o confirmou. Estará ele a preparar-se futuramente para a adaptação desta saga da Rockstar?? Eu não me importaria nada!
bom regresso knoxville! :)
Quanto a este filme achei bastante bom mas o grande problema é a inevitável comparação a Collateral que ganha naturalmente vantagem!
As interpretações foram bastante credíveis a meu ver mas lá está, se formos a comparar Foxx/Cruise e Foxx/Farrell, naturalmente que Miami Vice fica a perder.
Mesmo assim nota-se o dedo de Mann em toda a obra, a começar pela escolha das músicas e a acabar nas cenas de acção (tiroteios) extremamente bem conseguidos!
Eu gostei bastante, apesar de admitir que Collateral foi superior em muitos aspectos!
Um abraço!
Dora, já tive a dar uma olhadela. Andas a dar numa de feminista :) Beijinhos!
Paulo, nem mais. Um abraço.
Mário, poderia ter sido bem melhor. Saí desiludido. Um abraço!
Brain, não me parece que tal aconteça. E se acontecer que seja para tão cedo. Mann já vai nos seus 60, já tem 3 ou 4 projectos para os próximos anos e Miami Vice não foi um sucesso tão estrondoso que o leve a pegar nessa ideia. Mas veremos. Se acontecer será bom.
André, concordo com tudo o que dizes. Farrell, a meu ver já deu o que tinha a dar. Nesta altura é um actor extremamente esteriotipado e previsível. Um abraço!
Eu pessoalmente considero-o o melhor filme de MANN juntamente claro com HEAT.
É uma obra de autor, e um grande passo numa nova linguagem e tecnica.
Cumps
Longe de concordar contigo ne-to. Heat é soberbo, e Collateral é excelente. Para não falar de tantos outros. Miami Vice é banalissímo para o que Mann nos habituou. Um abraço.
Sinceramente não considero que Miami Vice seja o tipico filme de Verão, uma vez que o blockbuster de Verão foi inventado pelo Don Simpson e Jerry Bruckheimer e segue uma fórmula que não foi seguida por Michael Mann. A forma como filma, a fotografia está excelente. A dupla Colin Farrel e Jamie Foxx lembram me os heróis do cinema de outrora: duros e calados (Clint Eastwood fez fama a matar muito e a falar pouco)na minha opinião os heróis de acção não tem de ter forçosamente uma grande vida interior e um multiplicidade de sentimentos etc e tal (hoje é que todos os personagens tem que ser ricos interiormente). O filme tem estilo, tem bons actores que fizeram o que lhes foi pedido (imaginem que o Colin Farrel dava uma de Phillip Seymour Hoffman no Capote? no minímo risivel).
Enfim devo dizer que adorei o filme e acho um pouco idiota a comparação com o Colateral, uma vez que o Heat está muito mais próximo do Miami Vice do que o Colateral.
X
PS: Miami Vice é banal comparado com o Heat e o Colateral, mas estes dois são banalissimos comparados com o Ultimo dos Moicanos. Cada filme é um filme e deve ser visto na sua singularidade.
X
De acordo com a tua útlima afirmação X, mas nada é assim tão singular. Se podes criticar algo quando tens conhecimento do que o envolve, e isso inclui outros filmes, trabalhos do realizador, etc... etc...
Cumprimentos X e Helena.
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