quinta-feira, novembro 16, 2006

La Science des Rêves (2006)

Doloroso. “A Ciência dos Sonhos”, o filme mais recente de Michel Gondry não passa de um enorme pesadelo cinematográfico. Imaginação e criatividade só servem quando usados com pés e cabeça, com um sentido e significado.

Mas bem, não coloquemos “a carroça à frente dos bois” e começemos pela sinopse oficial de “La Science des Rêves”: A vida parece melhorar para o envergonhado e distante Stephane (Gael García Bernal) quando este é convencido, pela mãe que lhe promete trabalho, a voltar à sua casa de infância em França. Bastante criativo, a sua fantasiosa e por vezes perturbada vida ‘de sonhos’ ameaça constantemente o seu mundo quando acordado. Porém, a sua vida pode mudar quando conhece a nova vizinha, Stephanie (Charlotte Gainsbourg) e a sua amiga, Zoe (Emma de Caunes). Inicialmente atraído por Zoe, ele rapidamente se deixa levar por Stephanie cuja imaginação facilmente se combina com a dele. Quase inexplicavelmente levada pelo seu charme, ela de alguma forma encontra a chave do frágil coração de artista de Stephane. Entretanto, à medida que o seu relacionamento se desenvolve, a vida “de sonhos” começa a sobrepor-se à sua vida real e Stephane enfrenta um dilema que poderá não ser capaz de resolver, mesmo com a ajuda da sua “Ciência dos Sonhos".

Com um conceito tão sumarento, um realizador competente e criativo - “Eternal Sunshine of the Spotless Mind”, apesar de altamente sobrevalorizado, foi uma obra de valor indiscutível e único – e todos os meios sócio-técnicos para triunfar, Gondry falha redundantemente e converte uma premissa interessante numa execução absolutamente confusa, infantil, e, a certo ponto, dependente de piadas de carácter sexual para mantêr o público atento. Michel Gondry sentiu-se tão em casa com o tema do filme, construído à medida da sua imaginação, que relaxou demasiado e esqueceu que realizar um filme não é o mesmo que pintar um quadro. Existem regras. As personagens não podem ser tão humanas quanto bonecos de papel. Um filme que articula sonhos e realidade não pode basear todo o seu entretenimento em piadas sexuais.

Mesmo assim, Gael García Bernal brilha, num estilo muito próprio e acaba por ser o único aspecto positivo de “A Ciência dos Sonhos” (além da personagem de Alain Chabat, que aqui e ali desanuviava o ambiente). As restantes não passam de personagens estampadas, pouco desenvolvidas, e que pouco ou nada acrescentam a este verdadeiro derrapanço qualitativo de Gondry. Disparando para todos os flancos “imaginações sem sentido” e sem interligação, “La Science de Rêves” vale apenas (apesar de pouco!) por alguns momentos que ocorrem na realidade argumentativa. O resto é para esquecer. Um filme sobre sonhos merecia muito mais. Será que Gondry consegue arranjar-me aquela máquina do tempo para eu voltar atrás e recuperar as minhas duas horas perdidas?

17 comentários:

not_alone disse...

Não podia discordar mais. Science of Sleep não só foi um dos filmes que mais mexeu comigo este ano, como é provável que me acompanhe num futuro mais distante. As piadas sexuais exitem mas resultam. são apenas um complemento de todas as outras piadas menos óbvias. É acima de tudo um filme que me fez sonhar, que despertou em mim uma criança por vezes esquecida. Fez tudo aquilo que Lady in the Water se propunha a fazer e não fez.

Já agora, também viste a antestreia no Monumental? Se sim, não sei como é q ainda não descobri quem tu és. Afinal de contas andamos na mesma faculdade :P

Carlos M. Reis disse...

Eu não tenho nada contra as piadas sexuais, apenas contra o facto de as únicas risadas da assistência (sem ser de um homem lá para trás que ria que nem um porco) serem derivadas das mesmas e pouco mais. Ou não se toma esse caminho irónico, ou então não nos baseamos apenas nisso. O resto, mais de metade dos sonhos/imaginação mostrada é fútil e sem importância para o desenrolar da história.

Como disse, um filme sobre Sonhos tem tudo para ser melhor, mais criativo, mais divertido e mais funcional.

Sim, tive no Monumental :)

Um abraço.

Francisco Mendes disse...

Gondry sobrevalorizado?! Olha que não... olha que não...

Bem, adivinha-se mais um filme para divergir opiniões... como eu gosto disto! :)

Abraço Knox!

Carlos M. Reis disse...

Não disse Gondry sobrevalorizado. Disse Eternal...Mind sobrevalorizado, apesar de ser um bom filme.

Um abraço Katateh :)

Gonçalo Trindade disse...

Eu, pesoalmente, gostei muito do filme. Acho que o humor (piadas sexuais ou não) contribuiu para dau um certo ambiente mais próprio ao filme, um ambiente mais... Gondrista.

Visualmente, o filme é uma pérola. Realmente, só mesmo o Gondry para fazer algo assim...

A história pareceu-me bastante boa, um belo romance entre aquelas duas personagens. Gostei daquele final... ao contrário de certas pessoas que estavam à minha frente (também fui ao Monumental), que deram um grande e desiludido "AAAWWWWWWWWWWWWWWW!!".

No geral, um belo filme... mas creio que vai, sem dúvida, dividir algumas opiniões.

brain-mixer disse...

Eternal...Mind sobrevalorizado?? Também não! Pelo menos eu não concordo nesse ponto.
Agora se achaste a ciência dos sonhos mau( para lhe dares uma estrela!!), eu não vou ficar de pé atrás ;)

(Para os que ficarem desiludidos, podem sempre esperar pelo "Be Kind Rewind" e "Masters of time and space"...)

Carlos M. Reis disse...

Gonçalo, Gondry excedeu-se a meu ver. Há que racionalizar a imaginação e a criatividade e criar uma obra com regras. Tal como dizes, é uma pérola visual. Se fosse um quadro teria adorado. Mas é um filme. O final foi mais do mesmo, e nada que ninguém não tivesse à espera. Um abraço!

Edgar, a meu ver sim. Um grande abraço!

gonn1000 disse...

Pois, Gondry aqui parece daquelas crianças que recebem muitos brinquedos e querem brincar com todos ao mesmo tempo, e o resultado é por vezes confuso. Agora, daí a dar 1/5... É uma semi-desilusão, mas um bom filme ainda assim.

Carlos M. Reis disse...

Seria um bom filme ainda assim para um estreante qualquer. Para quem vem de uma obra (que novamente repito apesar de sobrevalorizada, foi bastante boa) com a de Carrey e Winslet, La Science des Rêves é uma total desilusão. Junta o facto de qualquer filme sobre sonhos ter tudo para triunfar e este não ter feito, para veres porque dei 1/5.

Um abraço Gonçalo.

Carlos M. Reis disse...

O João Lopes do DN deu nota zero a este Ciência dos Sonhos. Mais um que se junta ao clube :)

brain-mixer disse...

Eu nunca levo a sério o que o João Lopes diz...

Carlos M. Reis disse...

Eu também não, mas quando dá jeito... :P

Anónimo disse...

Não acredito que seja assim tão mau caro Knoxville. É certo que ainda não o vi (fui hoje ver o Brick, que é mesmo fabuloso), mas apesar de temer que o Gondry se tenha perdido um pouco sem o Kaufman, acho que não é tanto para 1 estrela...
Mas a ver vamos...

Carlos M. Reis disse...

Não podes partir para nenhum filme com esse pensamento cara Helena. Antes de ver um filme penso que tanto posso dar um 0 como um 5. Não vou já a pensar numa nota miníma só por ser Gondry, Spielberg ou quem quer que seja. Fui com expectativas altissímas (tanto foi que pedi os convites para a antestreia) e saí completamente defraudado. Espero que gostes, não desejo más experiências cinematográficas a ninguém :P

Beijinhos.

Carlos M. Reis disse...

Kaufmann cara amiga. A diferença que um bom argumentista faz. Mas aguardo a tua opinião sobre o filme, espero sinceramente que gostes. Comigo não pegou :(

Dona Milú disse...

O filme é um mimo, um primor e tem uma história extremamente sensível. É uma das obras cinematográficas mais lindas que já vi, humana e esteticamente. Infelizmente, cada vez mais a ficção se torna mercantilista e contagia a crítica. Histórias, como pessoas, não precisam ser todas iguais, estilo "self-made man" ou romances de Meg Ryan, para ser um sucesso. O "loser" não visto como um loser por todos e a criatividade precisa abrir mais espaço no cinema!

Anónimo disse...

"numa execução absolutamente confusa, infantil", afirmas tú.

É exactamente isto que o personagem principal é.

Ponho-te as coisas assim: "numa execução simples e adulta"

Era este tipo de execução que ia de encontro ao personagem?

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