Leonard Zelig (Woody Allen) é um verdadeiro camaleão humano. Para além de chegar quase a fundir-se em si mesmo, em termos de personalidade e conhecimentos, com quem o envolve, Zelig passa por um processo de osmose tão completo que se torna igual às pessoas com quem se cruza. Com toda a gente, menos com o sexo feminino, que por tao complexo, não lhe permite a transformação adequada. Mas de resto, sejam gestos, a voz, as atitudes, o discurso ou as próprias ideias, tudo se transforma a um ritmo diabólico. Assim sendo, a vida de Zelig, o fenómeno, é uma aventura composta de retalhos de outras vidas e personalidades, até ao dia em que conhece a psicóloga Eudora Fletcher (Mia Farrow). A partir desse momento, o seu objectivo deixará de ser o desejo de ser bem aceite pelo grupo, mas sim a oportunidade de ser amado por uma mulher. Não fosse o seu problema uma doença mental...
A acção de "Zelig" decorre entre os loucos anos 20 e o início da II Guerra Mundial e Woody Allen, que realizou, escreveu e interpretou esta “falsa” comédia, faz rir e sorrir o espectador com uma sucessão delirante de referências históricas, literárias e cinematográficas. “Zelig” é uma caixinha de madeira oca (por ser um falso documentário) que reúne um conjunto fantástico de citações humorísticas memoráveis, mas também um leve dissabor sobre tudo aquilo que a película poderia ter alcançado e não o fez. Numa técnica mais tarde repetida e eternizada por Zemeckis em Forrest Gump, que, por assim dizer, coloca o presente no passado, Allen prova mais uma vez que é “o” cineasta da existência, tratando em “Zelig” daquela vontade que a todos toca, de sermos alguém que não somos.
Sendo sem dúvida alguma o filme mais conceptual de Woody Allen, “Zelig” é uma crónica sobre a ambiguidade e dualidade de qualquer tipo de realismo cinematográfico. E a prova maior desse facto, é que a própria noção de documentário é falsificada, num desafio claro que acabou por romper uma nova fronteira nos anos 80. No entanto, e tendo em conta o arrojo da premissa, é quase normal ao espectador sentir no final um pequeno amargo na boca, pela aposta não ter recaído numa pura obra de ficção, filmada sem narração e com personagens verdadeiramente fictícias e não adequadamente fabricadas para encaixar no estilo narrativo.
6 comentários:
Meu, podes ler o resto do post do Dexter à vontade que tive o cuidado de não meter nenhum spoiler :)
E já agora, deixa-me dar-te os parabéns pelo belo blog que tens aqui.
Ok, vou por lá passar outra vez então :) Obrigado pelas simpáticas palavras Bruno. Cumprimentos!
Nunca vi este do Allen, mas deve valer a pena (como quase todos os seus filmes).
Olha podes mudar o endereço do "the other side of donnie darko" para http://the-last-chapter.blogspot.com/, uma vez que mudei recentemente :P.
Cumprimentos Knoxville e, já agora.. onde está a crítica ao "The Fountain"? :P
Está mudado Carlos. Quanto ao "The Fountain", não passa desta semana. Infelizmente não tive ainda tempo absolutamente nenhum para ir ver um dos filmes que mais aguardo desde 2005/2006. Um abraço!
So 3 estrelas? tssst... tssst ;)
Apenas porque, tal como expliquei, fiquei com aquela sensação que a magnífica ideia poderia ter dado para muito mais. Cumprimentos Wasted :)
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