segunda-feira, outubro 22, 2007

The Brave One (2007)

Erica Bain (Jodie Foster) está apaixonada, prestes a casar-se e completamente dependente neste mundo do seu namorado (Naveen Andrews) para ser feliz. Numa noite como tantas outras, Erica e David vão passear o cão ao parque perto de casa. E, de um momento para o outro, vêm-se envolvidos numa luta sem sentido pelas suas vidas, apenas porque um bando de rufias com uma câmara na mão decide espancar o casal, sem razão aparente. Numa Nova Iorque suja e perigosa, Erica acorda algumas semanas depois de um coma profundo, descobrindo de imediato que David não tinha resistido às agressões. A sua vida deixa de fazer sentido e eis que surge "A Estranha em Mim", um título luso que faz jus à excelência da fita cinematográfica de Neil Jordan, ao contrário do que foi afirmado, por exemplo, por João Lopes, que considera a tradução nacional "a pior do ano".

Bagatelas à parte, "The Brave One" é um filme soberbo e altivo. Revigorando o bom estilo vingativo e hostil dos anos setenta e oitenta, onde os "vigilantes" subjugaram a sétima arte, Neil Jordan promove uma violência tão vulgar como exacerbante. E Foster, magnífica como sempre, triunfa de forma imparável nas complicadas e perigosas transições entre a angústia da vingança e o fascínio dos seus "julgamentos". E porque não há duas sem três, temos ainda um surpreendente - ou talvez não - Terrence Howard, que equilibra a balança da reflexão moral durante boa parte da obra, mas que acaba por ser peça decisiva para o desequilíbrio final que torna a obra de Jordan um marco cinematográfico em 2007.

Porque num matagal urbano, onde cada um pode fazer justiça sem dor nem pesar pelas suas próprias mãos, a inquietude a certa altura expressa de forma gloriosa por Foster de que "I always believed that fear belonged to other people. Weaker people. It never touched me. And then it did. And when it touches you, you know... that it's been there all along. Waiting beneath the surfaces of everything you loved." identifica-se connosco. Numa apreciação desfavorável do irlandês Neil Jordan aos vícios e políticas da sociedade norte-americana, onde uma arma é tratada como um bem supérfluo, temos ainda duas sequências para a história: aquela em que Jordan sobrepõe as imagens dos corpos devastados de pancadaria com cenas intimas do casal protagonista e, por fim, o plano final, em que Erica se harmoniza com a cidade e com o mundo, exactamente no mesmo local onde a sua vida foi assolada.

22 comentários:

Dark Electronic disse...

Cheira-te a nomeação de Óscar para Jodie Foster?

Bracken disse...

Knoxville, não concordo nada com as tuas considerações sobre o filme. Na minha opinião, é um filme mediano, sem grandes rasgos e bastante previsível. Não fosse a Jodie Foster...

Carlos M. Reis disse...

Dark, não sei. Normalmente filmes não estreados por volta de Dezembro e Janeiro nos EUA não levam com nomeações. Costuma ser mais uma questão de lobby do que de classe. Se merecia? Falta muito até Janeiro, altura das nomeações, mas arriscava com um forte sim. Tal como a realização de Jordan. Um abraço.

Bracken, opiniões ;) Para mim, tem uma realização fantástica, uma frieza sensacional e o final apanhou-me de surpresa: (SPOILERS)pensei que Jordan ia arriscar pela morte de Foster nas mãos de Terrence (/SPOILERS). Um abraço!

Anónimo disse...

Eu aposto que vai ser nomeado(a).

Proud Bookaholic Girl disse...

A ver, portanto... Não vou perder! ;)

Carlos M. Reis disse...

José, é uma aposta arriscada. Veremos ;) Um abraço!

Aisling, sem dúvida alguma! Cumprimentos!

Cataclismo Cerebral disse...

Espero bem que a Jodie seja nomeada :) Como sabes adorei o filme, trata tão bem as suas personagens e o argumento que é impossível não ficarmos embalados. E aquela parte final destroça-me, não tenho problemas em admiti-lo. Confesso que não gosto do título português, por ser demasiado evidente e simplista, mas isso é um mal menor diante de um filmaço deste calibre!

Abraço

She was anouk disse...

Sim, agora com esta crítica sou mais que obrigada a ir ver! :)

com um blog tão bom, já o pus no meu blog! mais uma vez obrigada pela partilha!

Carlos Pereira disse...

Mas toda a gente lhe dá 5 estrelas? Acho que vou amar isto. Só o trailer já me parece genial....

Abraço Knox!

Carlos M. Reis disse...

Cataclismo, mas é um simplismo expresso várias vezes no filme. E se Neil Jordan o fez, porque não a tradutora? Ao menos temos a certeza que alguém viu o filme antes de o traduzir, ao contrário do que aconteceu recentemente com passatempos abertos ao público para escolher os títulos nacionais de certos filmes. Um grande abraço Cataclismo.

Fes, agradeço novamente as simpáticas palavras e o linkzito. E o teu cantinho também já cá está na lista ;) Beijinhos.

Carlos, depressa para o cinema. Irra Irra ;) Um abraço!

Luís A. disse...

bom títulos e oscars áparte. Neil Jordan e Jodie Foster, assim como os vossos comentários entusiásticos, estão quase a levar-me ao cinema para vêr este Brave One (mas primeiro vai o Julgamento lol)

Abraço Cinéfilo

Gonçalo Trindade disse...

Irra só vejo isto a ter boas críticas... e eu que estava a tentar manter expectativas algo moderadas... Enfim, já me cheira a Óscar para a Jodie Foster (e ainda bem, que ela realmente é uma actriz fabulosa).

Grande abraço, Knox!

Anónimo disse...

É pesadinho este filme, ainda que ao principio se espere algo do tipo "Charles Bronson" em que vingança ocupa 90% do filme e nos dá um gozo tremendo, este exige que criemos empatia pelo turbilhão de emoções que a personagem principal sente.

Longe de ser um filme pipoca, só não fiquei muito convencido com a quimica entre a Jodie Foster e o Terrence Howard, ainda que avaliados independentemente tenham feito um trabalho competente.

Carlos M. Reis disse...

Luís, deste lado fica a recomendação. Julgo que gostarás. Um abraço cinéfilo!

Gonçalo, quanto ao Óscar é cedo, até porque a Academia não costuma nomear estas actrizes de pontapé e arma em punho, contra tudo e contra todos. Não me lembro de nenhuma. Mas que Foster é fabulosa, isso ninguém duvida. Um grande abraço!

Innuendo Maléfico e com Bigode, eu confesso que não senti essa incopatibilidade entre Foster e Howard. Um grande abraço!

Charlotte disse...

Também já fui ver, e confirma-se o filme é muito bom! Gostei imenso!

Beijinhos

Carlos M. Reis disse...

;) Beijinhos Charlotte!

Dark Electronic disse...

Bem ela já ganhou um Óscar de arma em punho e pontapé pelo 'The Silence of The Lambs' :p

Carlos M. Reis disse...

Eu pensei nisso enquanto escrevia aquilo, mas esperei que ninguém se lembrasse disso ;P E eu disse "normalmente" :P Um abraço Dark!

Carlos Pereira disse...

Que filme! Concordo com as duas sequências que referes... são avassaladoras. Abraço Knox!

Carlos M. Reis disse...

Sem dúvida alguma Carlos. Um forte abraço!

strangelove disse...

O filme é realmente bom. A jodie foster está muito acima da média (a frieza nas sequências do metro gelou-me atá ao osso)

Por outro lado, o final... Demasiado fácil e claramente para agradar a gregos e troianos "hollywood like""..

Carlos M. Reis disse...

Agora com algum distanciamento, e mais a frio, uma pessoa chega à conclusão que, realmente, o final poderia ter sido bem melhor. Mas o resto é tão bom, que... paciência ;) Cumprimentos Strangelove, obrigado pela visita e pela participação!

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