
"O que se passa connosco?", pergunta Moore. Como é possível que uma simples ponte (uma das muitas que faz a ligação entre os EUA e o Canadá) provoque que uma mesma operação que custa 60 mil dólares em território norte-americano, passe para os assustadores... zero dólares em apenas algumas centenas de metros de distância. Ou que o mesmo medicamento custe centenas de dólares nas farmácias norte-americanas, quando em Cuba custa 5 cêntimos. Como é exequível tanta artimanha por parte das seguradoras na altura de pagar tratamentos dispendiosos? E por aí adiante, num vasto rol de actos indecorosos, que desonram e desacreditam qualquer sistema nacional de saúde.
Com a preocupação de factualizar tudo o que apresenta, em vídeo ou no seu website, de modo a não voltar a ser alvo fácil da direita norte-americana, Moore não assina mesmo assim em "Sicko" a sua melhor obra. Isto porque falta-lhe a audácia de enfrentar cara-a-cara o peixe graúdo, tal como havia feito arrebatadoramente em "Bowling for Columbine" ou "Fahrenheit 9/11". Mas desengane-se quem pensa com isto que o "Capitão Mike" não nos presenteou com novo golpe de génio: quando um velho inimigo, com site exclusivo de ataque pessoal a Moore, lamenta ter que encerrar o seu site para poupar uns trocos de modo a conseguir pagar a cara operação à sua esposa - cerca de 12 mil dólares -, Moore envia-lhe um cheque anónimo com essa mesma quantia. O seu arqui-inimigo agradece-lhe, chama-o de "anjo da guarda" e critica publicamente essa ser a única maneira de salvar a sua companheira de uma morte certa. No filme, Moore mostra a fotocópia do cheque, e demonstra que bastava ao seu "admirador" viver em qualquer país europeu, no Canadá ou mesmo em Cuba para não ter que pagar um único centavo pela mesma cirurgia.
E é este estilo peculiar e incisivo, que muitas vezes roça uma genialidade socialista quase comunista, que irrita quase toda a direita, em qualquer parte do mundo. Em Portugal, por exemplo, vemos sempre os mesmos nos jornais, obra após obra, a corrê-lo com bolas negras. De "palhaço político em guerra primária ideológica", ao estanho facto de o realizador que "apenas" foi o autor de três dos cinco documentários mais vistos em todo o mundo só conseguir duas salas em terras lusas, uma coisa é certa: algo de errado se passa quando o que é analisado cinematograficamente é sua posição ideológica e não a sua sagacidade, inteligência e astúcia em comunicar o que pretende, através da sua câmara. Porque mais do que um indispensável guerreiro social e político, Moore é um realizador portentoso e provocador.

6 comentários:
Foi incluido a semana passada na minha lista 'a ver' :D
Abraço :)
Falando por mim, não é uma questão de ideologia. Neste caso, até acho que o Michael Moore faz um bom trabalho de exposição do sistema de saúde americano como corrupto e desumano. O pior são os 80-90 minutos seguintes, que são desprovidos de significado. E a atitude de falsa superioridade moral e de quem tem as respostas todas não ajuda.
Sérgio, se gostas de Moore, merece um visionamento. Um abraço.
É uma crítica válida. No entanto, julgo que qualquer exposição destas implica uma superioridade moral como exemplo contra o que se combate. Falsa ou não, é como é costume dizer: mais vale falsa e útil do que verdadeira e inútil.
Cumprimentos BBrown.
Acabei de o ver e estou completamente embasbacado... Eu já sabia que os sistema de saude americano era mau, mas nunca pensei que chegasse a estes pontos... :O
Não é humano...
Nem tudo são rosas mas nem tudo são cravos. Não te esqueças que vemos a "coisa" do lado de Moore. Provavelmente se Bush contratasse um qualquer documentarista jeitoso, conseguiria passar a mensagem oposta, com a mesma realidade ;)
Um abraço Sérgio.
aqui no Brasil o filme não passou em lugar nenhum. vai chegar no final do mês direto para o dvd. talvez passe depois em algumas salas fora do circuito comercial.
o filme é muito bom. mostra o que governos como o do meu país vem fazendo, tirando ano a ano dinheiro da saúde pra entrega-la as seguradoras.
não entendo a as acusações morais feitas a Moore, e o silencio a estes executivos assassinos e seus governos
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