quarta-feira, fevereiro 06, 2008

3:10 to Yuma (2007)

"O Comboio das 3 e 10" relata, uma vez mais, cinquenta anos depois da obra que revalidou o estatuto dos já falecidos Glenn Ford e Van Heflin em Hollywood, a história do foragido Ben Wade (Russell Crowe) e a odisseia árdua e perigosa que um grupo de homens atravessou para o transportar até ao comboio que o iria levar para a prisão de Yuma. Entre estes, Dan Evans (Christian Bale), um rancheiro, ex-combatente da Guerra Civil que, devido a problemas financeiros que colocam em risco a sua quinta e a sua família, aceita fazer parte da escolta em troca de alguns dólares. Mas será Wade tão rufia como o pintam? E o seu bando, sedento por o salvar, tão insignificante que não justifique uma maior - e melhor - protecção?

"3:10 to Yuma" é o mais completo e distinto Western que a indústria norte-americana cinematográfica fabricou desde que Clint Eastwood nos trouxe o altivo e soberbo "Unforgiven", no ínicio dos anos noventa. Sem problemas em afoitar-se no aprofundamento emocional e afectivo de cada um dos personagens, - com especial e óbvio destaque para os dilemas morais de Dan ao longo do percurso - ao invés dos grandes tiroteios e explosões de dinamite, típicas dos velhinhos do género, o realizador James Mangold ("Walk the Line", "Identity", "Cop Land" e o galardoado "Girl, Interrupted") triunfa, de forma hábil e sensata, ao saber utilizar cada elemento aparentemente secundário, como as paisagens áridas e desertas que embrulham a heróica jornada, como ponto de partida para as mais profundas questões filosóficas e éticas.

Numa refrescante mistura entre o conceito do tempo que esgota de "High Noon" e a complexa exploração interpessoal de "Butch Cassidy and the Sundance Kid", Mangold transforma a narrativa num jogo do gato e do rato entre o bem - inconsequente - e o mal, - proveitoso e frutífero - o que concede ao destino das personagens uma atmosfera negra, onde o ego astuto e manhoso subjuga a atitude digna e honesta. Com um elenco de luxo liderado por dois dos melhores actores da actualidade, coadjuvados por um surpreendente Ben Foster e por um experiente e versado Peter Fonda - e aqui interessa lembrar as suas origens, ou não fosse o seu pai um dos protagonistas principais de "Once Upon a Time in the West" de Sergio Leone, talvez o melhor filme feito até hoje do género -, "O Comboio das 3 e 10" exulta uma nova máxima que pode servir de receita para catapultar os Westerns neste novo milénio: por mais fora de moda que um chapéu de cowboy possa estar, quando a pólvora arde no cérebro e não na pistola, dificilmente uma fábula dramática conseguirá tão extraordinárias e dinâmicas bases como no faroeste.

18 comentários:

C. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
C. disse...

Gostei bastante do filme, mais do que estava à espera. (A ver se publico as linhas que escrevi sobre ele) ;)

CP disse...

Concordo plenamente com a tua crítica.
Infelizmente não poderei contribuir de uma forma mais construtiva já que disseste tudo como eu gostaria de ter dito.
:)

Anónimo disse...

tb gostei muito deste filme, alias de um modo geral os ultimos westerns têem sido muito bons ( Open Range).
E Claro esta, o supra é mesmo o Once Upon a Time In West, talvez mesmo o meu filme favorito.

Boas Cowboyadas pessoal.

cumpts

Cataclismo Cerebral disse...

Este parece estar-se a revelar uma surpresa. Tenho lido boas críticas ao filme, mas não creio que consiga ir vê-lo ao cinema (infelizmente tracei outras prioridades).

Abraço!

José Quintela Soares disse...

É complicado fazer um western excepcional, porque se olha muito para o passado, em que o género alcançou a glória.
Mas...de vez em quando, há agradáveis surpresas.

Miguel Ferreira disse...

Um óptimo entretenimento. Duas horas muito bem passadas, acção de primeira e aquela tensão pesada do gatilho que tanta falta fazia.A única coisa que não me convenceu foi o grupo dos vilões, nem Russel Crowe(sempre o achei um actor muito colado ao mesmo registo que tem vindo a piorar de filme para filme) nem Ben Foster (que gostei muito de ver em Alpha Dog)me assutaram um bocadinho que fosse, faltou ali alguma coisa..Faltou ali um Gene Hackman..Abraços

Carlos M. Reis disse...

Wasted e CP ;) Cumprimentos, obrigado pela visita!

Nasp, supra dos supras mesmo ;) Quanto ao Open Range ainda não lhe pus os olhos em cima! Um abraço.

Cataclismo, Janeiro e Fevereiro estão recheados de grandes filmes. É normal que tenhas saltado este ;) Um abraço!

José ;) Cumprimentos.

M.Ferreira, aqui discordo. Eu nunca fui muito à bola com o Russell Crowe, mas fiquei completamente rendido à sua performance neste filme. O mesmo para o Ben Foster, talvez mais ainda. Um forte abraço!

Anónimo disse...

Eu gostei do filme mas não foi nada de excepcional... não percebo as pontuações tão altas... eu até estava à espera de muito mais!

Carlos M. Reis disse...

Eu não. Fui surpreendido ;) Um abraço Ricardo!

Anónimo disse...

Uma boa surpresa, acho James Mangold um realizador irregular mas aqui esteve bem. E também não sou grande adepto do Crowe mas tem aqui um dos seus melhores desempenhos.

Carlos M. Reis disse...

De acordo ;) Um abraço Gonçalo!

Anónimo disse...

Sinceramente não gostei, tecnicamente bem feito, mas demasiado moralista, com os 'bons' a serem bons demais, e os 'maus' demasido maus !!!
Situações dificeis de entender, como o Ben Wade, o grande criminoso, matar essencialmente os membros do seu proprio gang...
No enorme Unforgivem, o Clint apesar de todo o arrependimento, não matou os seus proprios 'amigos', e quando coloca a sua vida em sério risco, não foi por um sentido nobre de heroismo, mas simplesmente, por vingança...

Carlos M. Reis disse...

Não sou dessa opinião. Acho que o mau (Crowe) até acaba por parecer bom e que o bom até tem tiques de mau. Mas é essa a beleza do cinema, cada um fazer a sua interpretação ;) Cumprimentos.

Jubylee disse...

Eu também gostei bastante deste filme e em particular da performance de Russel Crowe. Ele é um dos meus actores favoritos, mas nos últimos anos não o tenho visto com grandes actuações. Aqui, na minha opinião, volta em grande. Nem vale a pena referir Christian Bale a Ben Foster, que estão muito bem :)

Carlos M. Reis disse...

;) De acordo Izzi. Cumprimentos!

Flying Dutchman disse...

Não achei o filme excepcionalmente, mas é um bom western. Fiquei surpreendido pela fusão dos conceitos do Bom e do Mau, bastante distintos nos restantes filmes do género.
Um bom filme, mas nao o ponho no patamar dos grandes de Sergio Leone e companhia ;)


By the way e off-topic, podias mandar aquele argumento do Indiana Jones que ofereceste aqui no blog há tempos para o meu mail? [timo10brinke@yahoo.com] desde já agradecido!

Um grande abraço

Carlos M. Reis disse...

Dutch, posso sim senhor. Por volta da meia-noite, quando chegar a casa, trato disso ok? Um grande abraço!

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