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Em “
Jumper”, Hayden Christensen é David Rice, um rapaz que aparenta ser como tantos outros mas que, de verdade, não o é. É que Rice goza de um super-poder excêntrico, derivado de uma anomalia genética, que o dota da capacidade de se teletransportar instantaneamente para qualquer local do planeta, a qualquer momento. Entre banhos de sol junto às pirâmides do Egipto, umas ondas surfadas nas Maldivas ou um pequeno-almoço romântico em Nova Iorque, tudo numa única manhã, a vida de David era um sonho tornado realidade que corria de vento em popa. No entanto, e como não há bela sem senão, tudo vai mudar quando descobre que não é o único neste mundo capaz de teletransportar-se e que uma organização secreta – os Paladinos de Samuel L. Jackson - o perseguirá até o assassinar, numa guerra que, afinal de contas, dura há milhares e milhares de anos.
Com um dos mais fortes pontos de partida dos últimos anos, um realizador com a respeitável bagagem de Doug Liman – que de “
Swingers” a “
Mr. e Mrs. Smith”, passando por “
Identidade Desconhecida” e “
Go - A Vida Começa às Três da Manhã”, nunca havido desperdiçado uma premissa interessante – e um par de guionistas responsáveis, entre outros, pelos argumentos cinematográficos de “
Batman Begins” e “
Fight Club”, a ilação mais simpática que se pode prestar a “Jumper” é mesmo que, por um conjunto de circunstâncias infelizes e sem explicação, toda a potencialidade deste projecto foi transformada num produto medíocre e insignificante em todas as suas vertentes. Com a epígrafe em questão, detentora de um carácter artístico quase anarquista, onde infinitas possíblidades eram exequíveis, “Jumper” acaba por escolher um atalho demasiado simplista e infantil, tornando-se com o passar dos minutos em entretenimento facilmente esquecível que desaproveita uma grande ideia.
Como se de um círculo vicioso se tratasse, até as interpretações dos nomes mais sonantes do elenco são levianas. Hayden não convence enquanto super-herói, Jackson – e que fique claro que o considero um dos melhores da sua geração – não está talhado para vilões caricaturais e a esbelta e airosa Rachel Bilson chega a meter dó de tão superficial e incrédula ostenta ser, mesmo nos momentos mais profundos da relação amorosa da fita. De resto, e para sacudir alguma água desse capote, é nítido que as personagens não têm sequer tempo, no meio de tanto salto temporal e de pouco mais de oitenta minutos de fita, para serem desenvolvidas adequadamente. Com um final terrível, que promete uma ou mais sequelas, este poderá ter sido o pontapé de saída para uma aventura que ainda vai a tempo de ser épica: basta aliar aos efeitos especiais deste primeiro capítulo, uma história mais imaginativa, aprofundada e sem tanto cliché romântico. Em suma, “Jumper” é a prova de que quando nos chega um blockbuster de acção logo em Fevereiro, devemos torcer o nariz. Até porque quem o distribui, já sabe que o que tem em mãos não tem cabedal para competir com os pesos pesados do Verão.