terça-feira, março 18, 2008

Gone Baby Gone (2007)

Patrick Kenzie e Angie Gennaro são um casal de detectives privados responsáveis por uma pequena agência que investiga o desaparecimento de pessoas em Boston. Sem os meios da polícia local, mas com profundos conhecimentos nos bairros mais degradados e perigosos da cidade, Patrick e Angie são contratados pela avó de Amanda, uma jovem menina que, tudo indica, foi raptada de sua casa. Baseada na obra literária homónima do escritor Dennis Lehane, o mesmo que brindou Clint Eastwood com uma sólida narrativa em "Mystic River", "Gone Baby Gone" relata a história do desaparecimento de uma pequena e inocente criança e das questões sócio-morais que a envolvem.

"Vista Pela Última Vez" apresenta-se ao grande público como um thriller sobre um misterioso rapto - muito por culpa do aparato mediático que envolveu o caso Maddie - mas não é essa a essência que corre no seu coração ou que define a causa e o motivo de Ben Affleck, nesta sua auspiciosa estreia por detrás das câmaras - onde, pelos vistos, é bem mais eficaz e persuasivo do que à sua frente. Numa fábula onde nada é o que parece, ninguém é inocente e a acção honesta e digna nem sempre é sinónima da atitude moralmente correcta e benigna, "Gone Baby Gone" é sim, sem qualquer índice de falso pretensiosismo desde o seu monólogo de abertura, uma fita sobre a volubilidade das decisões, a iniquidade entre o certo e o correcto e a perversidade que assombra situações onde qualquer que seja a acção ou deliberação tomada, estamos a prejudicar o futuro de uns em benefício do de outros.

Com um robusto elenco, liderado pelo semi-novato Casey Affleck, que com a sua voz enferrujada, quase grosseira para a sua idade, consegue dotar o filme de uma masculinidade e seriedade inesperada, tão refrescante como surpreendente, facultando ao espectador a noção de que o seu Patrick Kenzie fará frente ao mais aterrador e medonho rufia, e conferindo a necessária, senão mesmo fundamental credibilidade às suas opções filosóficas e morais posteriores, e alicerçado pela sagacidade do eterno Ed Harris e da admirável Amy Ryan - com uma prestação que de tão repugnante só pode ser qualificada como genuína e verosímil - "Vista Pela Última Vez" gera, com o seu desfecho bipolar, um debate provocador na consciência de cada um: o que faríamos se fôssemos nós?

E é com esse derradeiro desafio, que imita a vida tal como ela é, tantas vezes severa e árdua e nem sempre com um final feliz no horizonte, que Ben Affleck inteligentemente remata a película. Poderia ser pedido mérito, capacidade ou aptidão maior do que essa a um realizador estreante, tantas vezes criticado e censurado como actor na indústria pelos mesmos que agora o aplaudem enquanto arquitecto de uma visão?

7 comentários:

Anónimo disse...

Vi o filme, com as minhas expectativas em baixo, e se calhar por isso, acabei por gostar bastante...
É claramente um caso de publicidade enganosa, já que a história, tem muito pouco a ver com o caso 'Maddie'.

Casey Afleck está muitissimo bem, e a Amy Ryan também, o Ed Harris como habitualmente excelente num papel secundário, e o Morgan Freeman está razoável...

Com outra conjuntura, as implicações morais deste filme teriam sido discutidas, até à exaustão, ainda por cima numa altura onde parece existir uma tentativa de 'esterlização moral' da sociedade Portuguesa, começando pelo governo, e pelas instituições públicas.
Quando um telejornal abre, com uma noticia sobre mais uma criança, que sofre de maus tratos, por parte dos progenitores, com a Assistência Social a saber o que se poderia passar, e mesmo assim a permitir que a criança se mantenha em perigo, os 'criminologistas' que invandem as televisões Portuguesas, tem uma opinião bastante critica, e o Ben Afleck conseguiu resistir ao caminho mais fácil...

Manuel Reis disse...

Esta é, talvez, a primeira vez que leio uma crítica a este grande filme sem que se fale na Madd'e. Muito bem!

Cataclismo Cerebral disse...

Ainda me falta ver...Parece que neste campo o Affleck se safou em grande, não é? Provavelmente descobriu agora a sua verdadeira vocação...

Anónimo disse...

e para mim a grande surpresa do ano, o Casey Affleck e um grande actor, e daqueles filmes que vimos e ficamos a pensar nele nos dias seguintes.

quanto ao resto deve-se ao grande autor do Mistic River.


Estupendo filme, volto a dizer.

Carlos M. Reis disse...

Abidos, sem dúvida alguma que o Ben Affleck resistiu a cair em caminhos confortáveis. E foi esse o seu trunfo. Claro que com um argumento destes... fica tudo muito mais fácil ;) Cumprimentos.

Manuel, calhou ;) PS: Já recebi ;) Um abraço.

Cataclismo, é melhor não lançarmos os foguetes já... vamos esperar, senão ainda temos que ir apanhar as canas :P Um abraço!

Nasp, para mim, é também - até agora - a surpresa do ano. Espero que mais apareçam ;) Um abraço!

Juom disse...

Por acaso acho que o filme tem algumas falhas, mas há ali qualquer coisa que me marcou e ainda não sei bem o quê. Tem a ver com a ambiência e as personagens sinistras, tudo muito bem captado por Affleck, uma das estrelas de Hollywood com quem sempre simpatizei, e também por isso soube muito bem ver que a sua estreia na realização foi em grande.

Carlos M. Reis disse...

Paulo, sim o filme tem falhas. Mas as minhas expectativas eram tão baixas, que nem as tomei em conta. Fui atingido como que por um raio com o seu final e isso soube-me muito, mas mesmo muito bem. Um grande abraço!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...