sexta-feira, abril 25, 2008

Death Sentence (2007)

Depois de revigorar recentemente o género de terror com o portentoso “Saw – Enigma Mortal”, o jovem realizador James Wan constrói em “Sentença de Morte” um não mais do que interessante thriller urbano de série B. Tudo começa com um genérico construído a partir de gravações caseiras, que mostram vários momentos marcantes de uma família unida e feliz. Elaborada esta introdução, Wan coloca nas suas mãos a capacidade de saltar imediatamente para o primeiro ponto de viragem – que normalmente só aparece perto do trigésimo minuto -, momento em que Nick Hume assiste ao assassinato bárbaro e demente do seu primogénito numa estação de serviço, por mero apetite voraz de um gangue local. Com a sua vida virada do avesso, Hume é ainda informado algum tempo depois que o responsável pelo crime apenas foi condenado a uma pena de prisão de meia dúzia de anos. E é nesse momento que decide retirar todas as acusações e fazer justiça pelas suas próprias mãos.

Death Sentence” é a prosopopeia cinematográfica de um maratonista que arranca em grande velocidade, ganha destaque inicial na frente da corrida, mas que acaba por não ter pedalada para manter o ritmo e chegar à meta junto dos melhores. Baseado num dos livros de Brian Garfield, o mesmo autor da obra literária que inspirou “O Vingador da Noite”, de 1974 - e que imortalizou Charles Bronson -, o filme transforma-se aos poucos numa banda desenhada negra e distante sobre a vingança como obsessão e estilo de vida. Seguindo uma relação de “violência que gera violência”, Kevin Bacon acaba por se tornar na própria escumalha que persegue, ao contrário de Bronson, que nunca abandonava moralmente o flanco dos bons da fita. E apesar de essa ter sido uma batata quente com a qual Wan não soube ainda lidar – já dizia Clint Eastwood numa das suas obras mais notáveis, “um homem tem que saber quais são as suas limitações” -, foi esse mesmo aspecto que permitiu que a grande lição a retirar do filme não tombasse para nenhum dos lados. Não há final feliz – nem sequer um final de jeito, imagine-se – nem vitória dos heróis; apenas a conclusão de que a vingança fria e crua acaba por resultar num círculo vicioso de raiva e ódio, com proventos fúteis, senão mesmo perversos.

Estamos então perante uma fita desequilibrada, onde o genial – por exemplo, aquela perseguição insigne a pé, num parque de estacionamento de vários pisos, construída e editada posteriormente de forma exímia – oscila muitas vezes com o banal – diálogos pouco trabalhados e aquele final medonhamente poético, tão grotesco como decepcionante. No entanto, subsiste a valentia enquanto entretenimento dramático desfocado de um julgamento moral dogmático. E só assim, sem grandes pretensões ou exigências, é que “Sentença de Morte” consegue ser apreciado. Caso contrário, terá simplesmente que se contentar com um par de cenas memoráveis, uma homenagem visível a “Taxi Driver” e um cameo ou outro delicioso de John Goodman, um actor constantemente esquecido por quem de direito.

3 comentários:

Flying Dutchman disse...

É verdade! Vi-o há bastante tempo, mas lembro-me de ter ficado um pouco desiludido com a história no final...
Acho que na cena da capela no fim poderiam ter aproveitado um pensamento de George Orwell (passo a citar): "Revenge is an act which you want to commit when you are powerless and because you are powerless: as soon as the sense of impotence is removed, the desire evaporates also." [não digo mais porque nao quero ser spoiler, mas quem viu acho que percebe]
Não achei um filme muito mau, mas estava a espera de mais...
um grande abraço Knox!

Carlos Martins disse...

Eu gostei do filme.

Admito que não seja uma "obra prima", mas sendo um fã dos revenge movies que populavam os cinemas e clubes de video nos 80s, este acaba por ser um bom retorno a este estilo de género.

Quanto ao fim... achei que o efeito pretendido era mesmo esse.

Bom fim de semana prolongado - e aproveitem para rever o Blade Runner no grande ecrã! :)

Carlos M. Reis disse...

Definitivamente também estava à espera de mais, apesar do filme ter momentos isolados muito muito bons - a perseguição no parque, por exemplo. Mas Wan tem futuro. Vamos esperar por o que aí vem. Um grande abraço Dutch!

Carlos, eu percebo a mensagem do final, mas julgo que a execução da cena final deixou muito a desejar. Poderiam ter feito passado a mesma ideia com moldes bem mais imaginativos. Quanto ao Blade Runner, já o fui ver esta semana. Por vezes, nem se dá conta que é um filme com 30 anos. É notável! Um abraço!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...