Entretanto, os saltos temporais tornaram-se uma imagem de marca do realizador. Com “Memento”, um dos mais aclamados filmes de culto deste novo milénio, Nolan orquestrou uma intrigante e original narrativa do seu irmão, onde um homem com um tipo de amnésia que o impedia de formar memórias recentes, procurava a verdade sobre a morte e a violação da sua mulher. Usando o corpo do protagonista como um bloco de notas, Nolan cria um gigantesco e vertiginoso quebra-cabeças no qual o espectador é convidado a montar todas as peças do estranho puzzle. Fascinante e complexo, “Memento” foi um sucesso estrondoso tanto na Europa como além-fronteiras e o primeiro passo sério para o reconhecimento mediático internacional. Nas bocas do mundo, Nolan foi rapidamente capturado pela Warner Brothers, que lhe propôs um contrato de exclusividade que ainda hoje se mantém e que encetou com o “remake” de um dos maiores sucessos cinematográficos a nível comercial norueguês: “Insomnia”. O britânico contou pela primeira vez com três nomes consagrados no elenco – Al Pacino, Robin Williams e Hillary Swank – mas a recepção ao filme foi mista e confusa. Sem surpresas, a previsão de várias nomeações aos Óscares da Academia saiu furada e “Insomnia” não levou com uma única. No entanto, a Warner Brothers continuava a acreditar no engenho e no talento de Nolan e entregou-lhe o ressuscitamento de um herói defunto: Batman. Em boa hora o fez.
Com “Batman Begins”, Nolan reinventou o Cavaleiro das Trevas, explorando as suas origens e as suas motivações enquanto vingador mascarado que aniquila as forças sinistras de Gotham City. Da excelsa prestação de Bale – que é, de longe, o melhor Batman cinematográfico desde a criação da personagem – ao restante elenco de excepção constítuido por lendas como Gary Oldman, Michael Caine, Morgan Freeman ou Tom Wilkinson, tudo em “Batman – O Início” é articulado de forma equilibrada e sóbria, deixando a nítida e satisfatória sensação de que nunca o homem por dentro da capa negra havia sido tão importante para o desenrolar da trama. Uma rotação de cento e oitenta graus em relação à miserável herança deixada por Joel Schumacher e os seus vilões de plástico. Mas 2006 não tinha ainda acabado para Nolan. Amizade feita com Bale e Caine, Christopher convenceu-os a serem as estrelas, juntamente com Hugh Jackman, de “O Terceiro Passo”, uma história sobre a rivalidade entre dois dos mais conceituados ilusionistas da Inglaterra vitoriana. A forma como “The Prestige” é narrado é, em si mesma, uma ilusão dividida em três passos. Somos presenteados, tal como nas artes mágicas, com um início que se parece vulgar mas não o é. De seguida, somos durante mais de hora e meia ludibriados com uma actuação fantástica que torna extraordinário o vulgar. Por fim, e tal como obedece o mágico terceiro passo, o clímax, em que o efeito da ilusão é produzido e o espectador finalmente bate palmas. Considerado por muitos – e eu fui um deles – como o melhor filme dessa temporada, “O Terceiro Passo” é uma deliciosa tragédia obsessiva. Quando a febre actual de "The Dark Knight" passar, logo se verá o que será feito de Christopher Nolan. Mesmo que pare por alguns anos, o seu sabre já é suficientemente luminoso para combater um duelo interessante com Lucas.
N.d.r: Baseado no artigo publicado em Junho na Revista Take.
7 comentários:
Ele é, sem dúvida, uma inspiração para os jovens que ambicionam ser realizadores, pelo menos, falo por mim. Ele e o Joe Wright tornaram-se recentemente os meus ídolos e só posso dizer que mal posso esperar por mais um trabalho destes talentosos artistas!
O Joe Wright ainda tem que provar que o Atonement não é um "one-time wonder", algo que o Nolan já o fez depois de Memento. Um grande abraço Flávio!
Para mim Chris Nolan é o realizador do momento!
The Prestige para mim foi das obras cinematográficas que mais me espantou.
É um talento em bruto este Nolan... espero ansiosamente por novos trabalhos, sejam eles com Batman ou sem Batman.
Cumps ;)
Grande Nolan!
Venha o Aronofsky agora!!!
The Wrestler... confesso que não fosse Aronofksy e não teria grande interesse em apanhá-lo. O Requiem for a Dream é, para mim, "o" filme desta década e por isso as expectativas são muito altas. Para não falar que considerei o "The Fountain" o melhor filme de 2006. Um abraço Zelig!
DAGC, eu até espero mais sem Batman do que com Batman ;)
Eu também espero mais um filme não Batman do que um próximo Batman. Penso que a haver nova sequela (e acredito que sim) não será para já.
Neste momento é uma incógnita o próximo filme do Nolan. Eu cá estou ansiosamente à espera.
Cumps ;)
Somos dois (muitos mais certamente :P) Um abraço!
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