quinta-feira, dezembro 11, 2008

Blindness (2008)

Num dia como tantos outros, um homem fica misteriosamente cego enquanto conduz o seu carro pelas movimentadas ruas de uma cidade. Sem aviso ou explicação aparente, o seu caso rapidamente se transforma numa epidemia de cegueira branca – ao invés da escuridão total comum. Em resposta ao inexplicável surto, as autoridades governamentais colocam em quarentena, num local sem as mínimas condições de segurança ou higiene, todos aqueles que afirmam estar infectados pela enfermidade. Inclusive a mulher de um oftalmologista cuja visão permanece intacta e cujos olhos serão as únicas testemunhas da queda de uma civilização e de toda a sua dignidade humana.

Blindness”, de Fernando Meirelles, é uma obra que raramente respeita a liberdade escrita estilística de José Saramago, incluindo na sua adaptação cinematográfica várias vírgulas cuja implementação transforma a parábola do português numa sucessão de clichés narrativos que em nada favorecem o impacto da brilhante metáfora existencial e humana que, em 1995, conquistou milhares de leitores um pouco por todo o mundo. Desse modo, podemos partir a película em duas partes: a do enclausuramento, muitas vezes sem nexo, com artimanhas descritivas e expositivas claramente redutoras em relação ao livro, típicas de um qualquer filme epidémico de série B; e a pós-evasão, mais alegórica, que preserva a alma e o simbolismo da literatura de Saramago.

São nestes instantes, aliás, que conseguimos identificar a breve narração de Danny Glover com as entrelinhas do escritor. Numa odisseia entre os medos e os defeitos da raça humana, sentimos finalmente alguma subtileza crítica. Com um elenco irregular que cumpre, mas raramente brilha – e Julianne Moore tinha aqui papel para ser nomeada a vários prémios -, há que destacar a sumptuosa fotografia da fita e murmurar o que poderia ter sido de “Ensaio sobre a Cegueira” caso a transição do livro para o guião tivesse sido mais audaz. Assim, mais marcante do que a obra em si, acabam por ser as lágrimas de Saramago aquando do seu primeiro visionamento.

5 comentários:

Anónimo disse...

É um filme que gerou muitas divergências nos cinéfilos, né? Rs... Já eu acho a Julianne Moore sensacional...

Abraços...

Anónimo disse...

A Julianne Moore neste filme está brilhante. O filme também muito bom. O filme como é óbvio jamais poderia ultrapassar o livro ou mesmo equiparar-se a este. No entanto está bastante bom e o triste disto tudo é que apenas comparam ao livro e não se conseguem distanciar o suficiente para analisá-lo como filme. Quem dera a mais de metade dos filmes que saem todos os anos terem uma pequena parte da qualidade deste filme! Sim eu li o livro e é o meu livro favorito. No entanto há que separar as águas!

Carlos M. Reis disse...

São pontos de vista que compreendo por completo. É essa a beleza do cinema :)

Cumprimentos, obrigado pela visita.

Dona Mãe Babada disse...

tinham-me dito que a violência psicológica da primeira parte era brutal e conhecendo Fernando Meirelles lá acreditei e encolhi-me a um canto. não sou masoquista e já me basta a tristeza da vida real para ainda pagar um bilhete de cinema e ficar mais triste... ehehehe
mas, no sabádo lá ganhei coragem para finalmente ir vê-lo.
às 3 da manhã ainda estava acordada, às escuras no meu quarto, a pensar no filme, no livro, enfim... na estória! no que realmente significa (e não na parvoíce de interpretação que as vozes de protesto fizeram)

mas continuo a achar que "Cidade de Deus" é o melhor de Meirelles.

Carlos M. Reis disse...

Dona babada, experimenta agora pegar no livro e completa todos os sentimentos que sentiste. Quanto a Cidade de Deus, não entranhei o filme na altura da sua saída. Talvez com um revisionamento daqui a uns largos anos mude de opinião. Cumprimentos ;)

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