Ken (Gleeson) e Ray (Farrell) são dois assassinos a soldo que são enviados pelo seu patrão (Fiennes) para Bruges, na Bélgica, de modo a refugiarem-se de um golpe que deu para o torto – a morte de um padre em Londres que acaba por envolver uma criança inocente. Ken, apaixonado pela história e mitologia da cidade belga, aceita sem pudor o exílio e desfruta das belas paisagens arquitectónicas de Bruges. Ray, por sua vez, atormentado pela culpa de uma morte imprevista, não se contenta por um segundo por não poder voltar para a sua terra natal, e olha para a pacata cidade medieval com desdém. Dois feitios e duas atitudes que vão traçar os destinos das personagens.
“Em Bruges” é inteligente, delicioso e surrealista. Violento, peremptório e cómico. Feliz a espaços, triste no seu desfecho, verdadeiro na sua premissa. Um agregado de atributos e qualidades triplas que se junta a outro conjunto tripartido: um elenco sensacional que divide méritos equitativamente entre o surpreendente Farrell, o seguro e contundente Gleeson e o vilão bipolar mas expedito Fiennes. Numa história quase teatral – o peso dos cenários e a preponderância dos diálogos assim o demonstram -, que envolve um leque extenso, mas brilhante, de personagens secundárias invulgares, que vão deste o anão racista à bela traficante de droga, passando pela prostituta de Amesterdão, tudo em “In Bruges” é absurdamente pensado ao pormenor.
Na primeira longa-metragem do dramaturgo britânico Martin McDonagh – depois de uma curta-metragem que venceu o Óscar da Academia Norte-Americana na categoria respectiva, e que também contava com a presença de Gleeson -, o londrino de trinta e oito anos começa a mostrar na sétima arte a razão pela qual venceu alguns dos mais importantes prémios da quinta arte do manifesto de Ricciotto Canudo. E traz ao circuito cinematográfico a melhor e mais refrescante comédia negra dos últimos anos, sustentada por completo no triângulo relacional da fita, sem necessidade de fogo-de-artifício manhoso de pós-produção. Um pequeno artefacto precioso que esteve quase a passar directamente para o mercado de DVD em Portugal – não seria o primeiro -, mas que a boa hora chegou às salas de cinema e provou que é possível entreter e, simultaneamente, estimular a mente dos cinéfilos. Ainda para mais, com um estilo muito próprio. Já só falta mesmo marcar a passagem aérea para Bruges.
6 comentários:
Knoxville, por curiosidade, tens conta no cinema ptgate?
Vou dizer aquilo que já em muitos sitios não tiveram coragem de dizer e que na opinião merece... É um grande filme...
Anónimo, sim. Por curiosidade, tens conta no Blogger? :)
Lmlas, é sim senhor. Cumprimentos.
E acabou de ser nomeado à grande nos Golden Globes :P
http://takea-break.blogspot.com
Verdade sim senhor :) Um abraço.
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