sábado, abril 25, 2009

Natasha Richardson (1963 – 2009)


Natasha Richardson passou grande parte da sua vida a ser rotulada. Primeiro, como filha de Vanessa Redgrave ou do realizador Tony Richardson; mais tarde, como esposa de Liam Neeson e irmã de Joely Richardson. Apesar dessa pesada “bagagem familiar”, o talento e a paixão para o cinema – e para o teatro, a sua arte de eleição – não tiveram nunca margem de manobra para serem confundidos ou atribuídos a factores alheios. Longe de alcançar a fama e a projecção mediática daqueles que amava, Natasha foi sempre, e apesar de tudo, uma estrela cintilante. Faleceu no passado dia 18 de Março, na sequência de um acidente ocorrido durante uma lição de ski, numa estância de férias canadiana. Segue, em tom de homenagem, uma breve análise a algumas das obras cinematográficas e teatrais que marcaram a sua carreira.

NELL (1994)

O seu papel em Nell não era o mais dramático. Esse pertencia a Jodie Foster, uma adolescente rebelde que cresceu isolada do mundo nas montanhas de um estado interior dos Estados Unidos da América. Mas Natasha espremeu ao máximo a sua personagem secundária e, enquanto psicóloga – o seu colega de gabinete era Liam Neeson, com que havia de se casar um ano depois – ensina a personagem de Foster a falar. Uma interpretação muito interessante, apenas sombreada pelo brilhantismo de uma actriz que já nada tinha a provar ao mundo.

THE PARENT TRAP PAI PARA MIM... MÃE PARA TI (1998)

Natasha nunca foi tão charmosa como no remake do clássico da Disney da década de sessenta “The Parent Trap”, uma fábula divertida sobre duas irmãs gémeas, separadas à nascença, que conhecem-se por acaso num campo de férias e orquestram um plano para reunir os seus pais. Com a então atinada Lindsay Lohan a brilhar nos papéis principais, a Richardson coube a tarefa de desempenhar o papel de mãe, num enquadramento britânico desempenhado perto da perfeição, naquela que talvez tenha sido a sua obra de maior impacto comercial em Hollywood.

TEATRO CABARET (1998)

Na mais brilhante representação da sua carreira, Natasha Richardson partiu corações no papel de Sally Bowles, uma cantora em plena era nazi que lida com uma gravidez inesperada e uma separação devastadora com a sua companheira bissexual. A sua actuação foi tão poderosa que lhe valeu um Tony – equivalente aos Óscares no mundo teatral – para Melhor Actriz. E a prova definitiva que Richardson era muito mais do que a senhora Neeson.

TEATRO CLOSER (1999)

Depois de ganhar um Tony pela sua actuação em Cabaret, Natasha foi rapidamente contratada para ser uma sedutora fotógrafa profissional em Closer, uma produção da Broadway que acabou por ganhar uma enorme projecção alguns anos mais tarde quando Mike Nichols a transformou em filme em 2003. O seu papel cinematográfico coube a Julia Roberts, mas diz quem viu ambos os trabalhos que Richardson foi muito mais crua e sexual em palco do que Roberts em fita.

MAID IN MANHATTAN ENCONTRO EM MANHATTAN (2002)

Na pele de Caroline Line, Natasha interpretava uma figura pública que tentava de mil e uma maneiras seduzir um candidato ao senado norte-americano (Ralph Fiennes), mas que acaba por perder a corrida para uma emprega de limpeza do hotel onde estava instalada em Manhattan. A empregada era Jennifer Lopez e o filme uma comédia romântica igual a tantas outras. Richardson conseguiu ser uma snob com estilo e roubar aos protagonistas algumas das cenas mais divertidas da obra.

THE WHITE COUNTESS A CONDESSA RUSSA (2005)

No derradeiro projecto da produtora Merchant-Ivory, Natasha contracenou com a sua mãe, Vanessa Redgrave, e com a sua tia, Lynn Redgrave, no papel de Sofia Belinsky, uma condessa russa expatriada em Shangai nos anos trinta. Viúva, Sofia sustenta a sua família através de trabalhos escuros de prostituição e espectáculos regulares enquanto dançarina erótica. Até ao dia em que conhece um americano cego (Ralph Fiennes), que se apaixona pelo seu tacto e faz dela responsável por um clube nocturno. Apesar das várias lacunas dramáticas do argumento, a interpretação de Natasha mereceu aplausos de todas as vertentes da indústria.

EVENING AO ANOITECER (2007)

Pela segunda vez na sua carreira, Natasha contracenou com a sua mãe, desta vez num filme do húngaro Lajos Koltai. Tal como na vida real, também no filme Natasha é filha de Redgrave, que interpreta uma mulher sem forças, que passa o que resta da sua vida na sua cama, à espera que a morte chegue. Impotente junto à cama da mãe, a personagem de Richardson consegue alguns momentos de deixar um nó na garganta aos mais duros cinéfilos.

Artigo publicado na edição 14 da Take Cinema Magazine.

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