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Agora que “Terminator Salvation” chegou até nós, é justo dizer que McG superou-se a si próprio, orquestrando o melhor filme da sua ainda curta carreira. Verdade seja dita, tal não era um desafio difícil de alcançar. E, infelizmente, McG fê-lo sem mudar de personalidade artística e confirmou que precisa de usar a sua “muleta” de acção desenfreada para disfarçar incapacidades óbvias de construção narrativa. O que lhe vale é que foi, desta vez, uma “muleta” banhada a ouro, mais do que suficiente para um coxo ganhar uma corrida contra um perneta – entenda-se terceiro capítulo – e dar asas a uma possível nova trilogia, desta vez focada num espaço temporal posterior ao Dia do Julgamento. Venha o que vier, temos que perceber de uma vez por todas que acabaram-se os cem metros olímpicos de Cameron.
Num breve enquadramento, “Exterminador Implacável: A Salvação” tem lugar no ano de 2018, numa pós-apocalíptica Califórnia. A guerra entre humanos e as máquinas pelo domínio total do planeta é uma realidade e John Connor começa a marcar posição enquanto uma das figuras de proa do movimento de resistência humana. Kyle Reese, o seu “futuro” pai, é apanhado e tornado prisioneiro da Skynet, o que obriga Connor a mudar o plano de bombardear a sede das máquinas para um esquema suicida com Marcus Wright, um estranho cuja falta de memória detém o segredo que trilhará o destino da humanidade.
Se a premissa é mais do que aceitável, a sua concretização rapidamente se transforma num guião repleto de falhas e incoerências narrativas. Entre elas, destaque para as personagens, das novas às repetentes, serem muito pouco exploradas – o exemplo mais dramático é o da namorada de Connor, interpretada por Bryce Dallas Howard, cuja gravidez não é sequer referida, apesar de notória, e o seu papel na vida do herói ser resumido a um par de beijos e abraços – ou para o facto de as máquinas da Skynet conseguirem detectar uma música de rádio a quilómetros mas não descobrirem a resistência quando estes lançam um bombardeamento feroz a uma das personagens. Há muitas outras falhas chocantes – entre elas, Reese estar no topo da lista “a exterminar”, mas quando é capturado ser enclausurado ao contrário de tantos outros, rapidamente aniquilados – que conduzem a uma conclusão óbvia: McG perdeu o fio à meada no fantástico espectáculo pirotécnico que criou.
Ao elenco, pelo contrário, poucas lacunas podem ser apontadas. Christian Bale cumpre os requisitos mínimos, ajudando a construir com a sua voz cerrada e interpretação metódica o ambiente enevoado e cinzento da obra, sem dúvida um dos maiores feitos artísticos de McG em “Exterminador Implacável: A Salvação”. O que falta a John Connor, enquanto líder carismático, deve-se à fraca caracterização concedida pelos guionistas – basta dizer que são os mesmos de “Catwoman” e não ao talento inquestionável de Bale. O joven Anton Yelchin conquista a audiência com a sua simplicidade e honestidade dramática, cabendo no entanto a Sam Worthington o melhor papel e, consequentemente, a melhor interpretação da obra. Destinado ao estrelato, a sua presença cativante na tela promete um futuro auspicioso em Hollywood. Moon Bloodgood confirma-se enquanto uma das mais belas e exóticas actrizes da actualidade – mas fica por aí, já que a sua personagem pouco mais necessitou do que isso – e Michael Ironside é completamente arrasado por clichés arrogantes e patéticos.
Independentemente dos paradoxos resultantes da falta de linearidade temporal das várias histórias que se cruzaram ao longo dos quatro capítulos da saga, o problema real de “Terminator Salvation” foi o argumento ter sido entregue a uma equipa de guionistas que não o merecia. A construção narrativa acabou por meter água por todos os lados e os diálogos – à excepção do discurso de rádio de Connor perto do final – poderiam ter sido escritos por uma criança do ensino básico, tão vácuos e inconsequentes que provaram ser. McG fez o que podia – e da forma que sabia - para salvar o filme da mediocridade, entregando ao público um pacote de acção formidável e um ambiente escuro, tal como os sonhos de Sarah Connor um dia preconizaram. Resta esperar que um próximo episódio, quase certo dado o final aberto da fita, saiba aproveitar todas as potencialidades de uma história e de um universo ficcional único.
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