Jenny (Kelly Reilly) e o namorado Steve (Michael Fassbender) decidem sair da urbana Londres para passar um fim-de-semana sossegado e descansado num belo e isolado lago, situado numa zona de bosques junto a uma pequena vila, com acessos deficientes e, convenientemente, sem cobertura de rede móvel. Tenda montada, carro estacionado debaixo de umas árvores e alguns mergulhos depois, um grupo de jovens rufias ameaça transformar uns dias de sonho – com proposta de casamento à mistura - numa vida de pesadelos. Num jogo violento de vingança – Steve ao ser atacado, mata o cão de um dos arruaceiros -, quem sairá por cima? A imaturidade aliada à irascibilidade do grupo de jovens ou a força imensurável do instinto de sobrevivência do casal? Ou será este um jogo sem vencedores possíveis?
A sinopse não traz nada de novo ao género, mas a abordagem intimista e realista do britânico James Watkins, que se estreia na realização depois de ter assinado o guião de “My Little Eye”, é uma lufada de ar fresco no cinema de terror, típica de quem ainda não foi possuído pelas fórmulas e pelos mecanismos automáticos de uma indústria que funciona em circulo fechado. Premiado com o galardão de Melhor Realização na última edição do muito português Fantasporto, Watkins pode muito bem seguir as pisadas do contemporâneo Neil Marshall (“The Descent”) e é, por isso, um nome a observar com atenção nos próximos anos.
E porque é “O Lago Perfeito” uma fita de excepção no género? Porque quebra lugares comuns. Primeiro, não precisa de recorrer constantemente a lugares escuros e fechados para criar um ambiente claustrofóbico. É, aliás, a vastidão do bosque que cria a incerteza e o pânico nas personagens. O olhar claro sobre o horizonte, que nada traz senão árvores e silvas, atormenta a esperança de uma possível salvação. Depois, porque o medo é baseado num problema bem real das sociedades contemporâneas – a violência juvenil, a educação deficiente dos pais e a falta de valores morais das gerações mais recentes - e não numa força oculta e misteriosa, qual enquadramento de um ficheiro secreto. Ou seja, podemos identificar-nos com as personagens e colocar-nos na sua pele. Por fim, o retrato é cru e sumptuoso, sem que para tal tenha sido preciso recorrer a efeitos especiais de primeira linha. É na simplicidade angustiante do sujo, da lama e das feridas por sarar que “Eden Lake” surpreende e conquista a aflição do espectador.
Com um final também ele duro e sagaz, que faz a ponte das responsabilidades do problema abordado, de filhos para pais, resta apenas destacar a qualidade do duo de protagonistas. Kelly Reilly, em especial, confirma ser uma das actrizes britânicas com maior potencial para triunfar na indústria, não mostrasse a mesma na sua curta carreira uma capacidade notável de adaptação aos mais diversos géneros cinematográficos.
7 comentários:
É um filme deveras surpreendente pela qualidade e pela lufada de ar fresco que representa para o género.
Sem dúvida! Um filme muito bom!
Obrigado pela dica, devo ve-lo nas férias ;)
Subscrevo em absoluto a critica.
Dos melhores filmes de "terror/thriller" dos últimos tempos. Este tipo de cinema Europeu está em alta, ao contrário pelo que tem vindo da terra do Tio Sam.
Tal como o Knoxville diz, é filme duro, "cru"... um filme acima de tudo profundo e que nos leva a reflectir bastante principalmente com aquele final.
Cumps ;)
Não será mais uma versão de The Funny Games?!
Não me convenceu... Nem nada que se pareça... Sim, foge aos clichés e concordo com o ambiente claustrofóbico causado apesar dos espaços "abertos"... Sim, dentro do género até bastante bom... Mas não, não me convenceu...
Filipe, nada a ver, na minha opinião. De resto, é um filme que tem sido bem aceite pela crítica em todo o lado. Isso diz um pouco da sua qualidade, num género cada vez mais gasto e repetitivo.
Abraços.
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