The Hangover (2009)

Doug Billings está prestes a abandonar o mundo dos solteiros. A dois dias do casamento, e como qualquer norte-americano com amigos endinheirados, desloca-se para Las Vegas com os seus dois melhores amigos e o irmão tresloucado da futura mulher, para uma despedida de solteiro típica de qualquer clássico de Hollywood – o próprio sogro é o primeiro a dizer-lhe que “o que acontece em Vegas, fica em Vegas... menos a herpes, que o acompanhará para o resto da vida”. Mas acontece o que ninguém esperava: na manhã seguinte, ninguém faz ideia do que aconteceu na “grande” noite. Uma ressaca que seria normal caso não houvesse um tigre trancado na casa de banho, um bebé de poucos meses dentro de um armário da suite do majestoso hotel em que ficaram instalados e... Doug, a um dia de se casar, não estivesse desaparecido. Aos três amigos resta agora tentar perceber o que se passou, encontrarem o noivo e voltarem para Los Angeles a tempo do casamento. Para ajudar, nada melhor do que meter Mike Tyson ao barulho.

Realizado por Todd Philips, o mesmo de comédias burlescas como “Road Trip” ou “Old School”, o hype imediato que foi criado em volta de “A Ressaca” pelo boca a boca do público levantou mais do que algumas sobrancelhas em todo o lado. Quando ninguém dava nada por aí além pelo filme – era apenas mais uma comédia normal na carreira regular de Philips -, eis que o mesmo surge entre os favoritos da crítica e destrona alguns dos maiores blockbusters sazonais durante várias semanas nas bilheteiras norte-americanas. A verdade é que este histerismo criado em volta da reacção positiva do público parece-me ter sobrevalorizado uma fita que, apesar de se destacar claramente das restantes na filmografia de um dos criadores do New York Underground Film Festival e co-argumentista de Borat, não aproveita na totalidade todas as suas potencialidades narrativas. As divertidíssimas premissas que fomentam a acção acabam por prometer mais do que realmente entregam.

O fantástico elenco masculino não pode, no entanto, ser responsabilizado pelas lacunas várias do guião. Bradley Cooper e Ed Helms demonstram um à-vontade tremendo em todas as cenas conjuntas, mas é o habitualmente secundário Zach Galifianakis que rouba o palco do estrelato para si – muito por culpa, é verdade, da sua personagem ser a mais sumarenta no registo em que se insere a obra. Numa altura em que Judd Apatow começava a distanciar-se da concorrência nesta mais recente geração de humoristas, eis que Todd Philips dá sinal de ser mais do que um simples tarefeiro. Mas com muito trabalho pela frente, já que nenhum filme pode depender de questões de contexto e enquadramento de visionamento. Mas o primeiro passo – fugir aos estereótipos caricaturais previsíveis das personagens do género – está dado.