Afinal, Mourinho não foi o primeiro a revolucionar o futebol com o seu estilo arrogante e resultados inquestionáveis nos primeiros anos de carreira. O já falecido, hoje lendário treinador inglês Brian Clough, será para sempre relembrado entre os fanáticos do futebol como o jovem treinador que, num par de anos, pegou em duas equipas da segunda divisão inglesa (Derby County e Nottingham Forest), trouxe-as à liga principal inglesa e, no mesmo ano, conquistou o título máximo do futebol britânico, surpreendendo tudo e todos. Não fosse isso suficiente para a glória eterna, levou ainda o Forest a duas vitórias consecutivas na Taça dos Campeões Europeus. Anteriormente, com o Derby County, tinha-se ficado pela Juventus, nas meias-finais – culpa talvez do Leeds United, que lesionara alguns jogadores fulcrais da equipa alguns dias antes, com o seu jogo “porco e feio”.
Apesar de todos estes feitos monstruosos, “Maldito United” foca-se na curta experiência de Clough no “Dirty Leeds”, em 1974 a grande potência do futebol inglês, em substituição do seu arqui-rival, aquele que o tinha desprezado no primeiro encontro de ambos, Don Revie. Revie tinha sido contratado pela selecção inglesa e, numa jogada arriscada – devido ao ódio que Clough sempre havia admitido pelos jogadores e pelo estilo de jogo dos então homens de Revie -, a direcção decide ir buscar o jovem “especial” – é assim que se descreve, muito antes de Mourinho -, recém-desempregado por exigir um melhor ordenado ao pequeno clube de Derby – apesar do filme relatar que a sua saída deveu-se a outros factores.
São, aliás, estas incongruências factuais, certamente ponderadas e deliberadas, que acabam por prejudicar a apreciação do filme. Os exemplos mais flagrantes e graves desta adulteração histórica, que retiram credibilidade a uma vida que não precisava de retoques ficticíos, envolvem, por exemplo, o facto de Clough ter sido treinador do Brighton, com muito pouco sucesso, depois de sair de Derby e antes de ir para o Leeds, sendo que no filme é relatado que foi contratado quando tinha saído de Derby e ainda não tinha treinado o Brighton, apesar da existência de um pré-acordo. Outro caso, facilmente detectado pelas gravações existentes no Youtube, são as falsas provocações do famoso debate televisivo que colocou Clough e Revie frente-a-frente, no dia em que o primeiro foi despedido do United. As reais acabam por ser mais polémicas que as criadas para o filme, pelo que não se percebe a opção narrativa de Peter Morgan, experiente guionista da fita, habituado à fidelidade destes cenários, como o provou em “Frost/Nixon”. De resto, excelente trabalho de articulação de prolepses e analepses do realizador Tom Hooper e brilhante – mais uma, depois de Blair e Frost – interpretação de Michael Sheen.
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