Evelyn Salt é uma das mais respeitadas e capazes agentes operacionais da CIA. Num dia como tantos outros – ou assim pensava ela -, é destacada para interrogar um desertor russo que se tinha entregue às autoridades norte-americanas. A mensagem deste é tão clara como preocupante: uma espiã russa, parte de um programa antigo do governo soviético, irá assassinar o Presidente russo na visita deste aos Estados Unidos da América. O polígrafo confirma a história, mas também o seu mais chocante pormenor: o nome da espiã é... Evelyn Salt. “Mas eu sou Evelyn Salt”, diz a agente, sem perceber como é que o ex-militar russo sabia o seu nome; “então tu és uma espiã russa”, conclui o desertor.
Deste momento em diante, logo nos minutos iniciais da fita, somos servidos com um pacote inesgotável de acção, muitas vezes sustentado através de cenas tão surreais – devido a uma execução técnica deficiente e pouco credível - quanto cativantes, ou não fosse Angelina Jolie uma super-estrela que é, ela mesmo, o principal efeito especial da obra e a prova de que, numa era em que a tecnologia e as novas técnicas de estilização digital predominam nos principais blockbusters, o carisma de uma actriz ainda consegue comandar os bolsos e o cérebro do público. Além de Jolie, também os sempre competentes Liev Schreiber e Chiwetel Ejiofor ajudam a credibilizar uma narrativa pouco sólida, apesar de extremamente audaciosa e atrevida, sobrecarregada de reviravoltas e duplas reviravoltas.
Assim, como thriller de acção, “Salt” está a quilómetros de distância dos melhores exemplares do género. Não será mesmo de todo injusto afirmar que a narrativa de Kurt Wimmer - guionista de obras interessantes e inteligentes como “Equilibrium”, com Christian Bale ou o mais recente “Law Abiding Citizen”, com Gerard Butler - e a realização do australiano Phillip Noyce, velho conhecido de Angelina Jolie, com quem já tinha trabalhado no simpático “The Bone Collector”, não mereciam a classe e o empenho de actriz norte-americana actualmente mais talhada para personagens femininas de acção, quebrando com facilidade uma barreira quase sempre inultrapassável para as mulheres de Hollywood.
Porque Salt, a heroína de acção – seja ela traidora ou não – merecia um martini de vez em quando, uma personagem bem construída, com traços de personalidade mais manifestos do que as suas capacidades físicas para saltar de camião em camião ou de prédio para prédio. Felizmente – ou não, apenas o futuro o dirá -, o final deixa antever uma sequela, que tem tudo para ser uma obra mais hábil e cerebral e menos muscular. Porque faltou alguma arrogância a um filme cujo melhor elogio que pode ser feito é que nunca aborrece.
5 comentários:
Completamente de acordo com a critica ao filme. Critica esta que já a tinha lido na Magazine HD... na parte da Take, que tem me parecido estar a fazer criticas mais... sei lá... talvez mais diplomáticas.
Salt foi descrito por si na perfeição... quem sabe sabe...
Caro Paulo, as críticas não tem sido mais diplomáticas, nós é que temos ;) Temos espaço para 4 criticas por mês, pelo que optamos por escolher falar bem (3, 4 ou 5) de 4 filmes, deixando aqueles que não gostámos de fora. É uma opção meramente derivada da "falta de espaço".
Quanto ao resto, muito obrigado pelas simpáticas palavras ;) Um abraço, continua o bom trabalho!
É obvio que teria de ser assim. Aliás, se há algo que se nota imediatamente na MagHD é o "positivismo exacerbado" (porque há os "mecanismos" comerciais atrás de cada título na publicação). E percebe-se bem as subtilezas de estilo que a escrita dos textos (quando algo é claramente inferior). Frases mais dóceis... os "para toda a familia" e tal... denunciam muitas vezes o que já sabemos. Devo dizer que gosto muito dos "truques" que usam e do assumido tom positivo da revista. Ao mesmo tempo, a presença da Take, está bem enquadrada no espirito mas mantém a identidade que se reconhece. As criticas que por vezes surgiam mais contundentes, só na Take a solo, é que "diplomaticamente" não são para ler na MagHD. E é aqui que digo que fazem bem ambas as partes. Não só não arruinam a carreira de certos títulos como conseguem ainda piscar o olho dos que alinham apenas por títulos de menor exigência. No fundo, chegam agora e literalmente a todos os tipos de leitores. Que dure muito tempo esta aliança.
Well done!
Obs: Miguel Reis... e que tal ingressar no grupo no Facebook, os "Bloggers Cinéfilos"?
http://www.facebook.com/home.php?sk=group_127825293938448&ap=1
Ainda continuo indeciso em relação a este filme, quero-o ver pois adorei Jolie no "Wanted" mas já ouvi coisas menos boas sobre este "Salt".
Muito boa análise, escrita fantástica.
É isso mesmo que acontece Paulo, apesar de ser, assumidamente, contra essa política, seja em que publicação for. Mas como a minha influência resume-se unicamente à Take, sendo um mero colaborador na MagHD, tenho que conviver com esse estilo. Um grande abraço. Não conhecia o grupo, parece-me uma excelente ideia, já pedi adesão ;)
Miguel, obrigado ;) Continua o bom trabalho que tens feito nestes poucos dias de vida. A continuar assim, vais longe!
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