Numa noite como tantas outras, uma equipa de reportagem de uma estação espanhola de televisão decide acompanhar a vida de um quartel de bombeiros local. Durante a madrugada, eis que surge finalmente uma chamada de emergência. Apesar de ser, segundo o telefonema, apenas uma senhora de idade presa no seu apartamento, sempre era algo para mostrar mais tarde. Mal sabiam eles que acabariam por ser encarcerados no prédio pelas autoridades, que isolam o edifício de forma célere e tresloucada. “Mas que raio se passa aqui?”, pergunta, a certa altura, o operador de imagem. “Não faço ideia! Mas não desligues essa câmera, aconteça o que acontecer, ouviste?”, replica a jornalista. Este foi o ponto de partida de "[Rec]", fita espanhola de terror que em 2008 arrebatou o Grande Prémio de Melhor Filme do Fantasporto. Dois anos volvidos – mas apenas quinze minutos depois do final assombroso da fita precedente -, os realizadores Jaume Balagueró e Paco Plaza voltaram e adicionaram ao bolo – que é como quem diz, ao prédio maldito - uma equipa SWAT armada até aos cabelo, um grupo de adolescentes curiosos que, sem autorização, entraram no prédio através do sistema de esgotos e, por fim, um misterioso membro do governo, com conhecimentos médicos e ligações ao Vaticano, que aparentemente é o único que sabe o que fazer para conter a crise.
Com três novas linhas narrativas – traduzidas em duas novas câmeras além da original que pertencia à equipa de televisão – a convergir para o surpreendente acto final, "[Rec] 2" é tão eficaz nos seus propósitos quanto o seu predecessor, catalogando-se definitivamente como uma proposta recomendável para os adeptos do género e uma opção infinitamente mais válida e justificável para os admiradores do original que o remake americano, de seu nome "Quarantine". Reciclando um conjunto considerável de ingredientes familiares aos grandes hits da história do cinema de terror, como os fenómenos paranormais, os mortos-vivos, as casas escuras, as pragas mortais, os assassinos misteriosos, entre outros – sejam estes para o leitor clichés ou meros arquétipos inconscientes -, a dupla de realizadores espanhóis conseguiram sacar novos truques da manga e construir uma obra hábil, ainda para mais tendo em conta que, para lidar com restrições orçamentais, elementos da equipa técnica interpretaram alguns papéis, como foi o caso de Pablo Rosso, cinematógrafo do filme mas também membro da equipa de intervenção. Com a mesma qualidade, manteve-se a sonoplastia pouco artificial da fita, bem como o trabalho de caracterização estética das monstruosidades.
Superior ou não ao primeiro, a verdade é que a sólida reformulação narrativa de "[Rec] 2" deixa as portas abertas a uma nova sequela – e, quem sabe, a uma prequela, inspirada na história da menina Medeiros -, podendo, assim, dar origem a uma saga de terror de sucesso ímpar, mantenham Balagueró e Plaza os seus lugares nas cadeiras de realização. E cada vez mais está o sucesso do cinema espanhol em mercados internacionais menos dependente do rótulo “Almodóvar”.
4 comentários:
O cinema de terror espanhol tem estado cada vez mais em foco nos últimos anos.
O Balagueró tem feito filmes muito interessantes. Eu ainda não vi esta sequela, mas considero o [Rec] um dos melhores filmes de terror da década passada.
Muito aconselhável é tmb o seu primeiro filme, "Los Sin Nombre", feito com um orçamento minimalista mas que resultou num óptimo filme.
Tb n vi ainda este...
Mas acho mesmo que isso da prequela e de + uma sequela já esta confirmada.
Tenho o filme para ver (com uns clicks arranjei um voucher na net... foi só isso!) hás uns meses e ainda não lhe peguei. Mas estou muito curioso por o ver.
Achei o Quarantine totalmente inútil e até inferior por ter actores conhecidos (o que lhe retira "realidade").
Um dia destes tenho de atacar a este (e alguns mais tais como o "Descent 2" e outros terriveis)...
Boa review e até já a tinha lido na "nossa" Mag.HD.
Quando é que vão falar um pouco mais sobre o que se passa com a Take, se afinal agora paradoxalmente só se a vislumbra impressa? Pode até ser lá no grupo...
Paulo, explicações e novidades sobre a Take para breve, o mais tardar até ao final do mês. Temos passado por um período conturbado a vários níveis, em que só foi possível manter os serviços mínimos (Mag.HD). Mas não é esse o nosso objectivo.
Um abraço.
Cumprimentos a todos!
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