Realizado pelo estreante nestas andanças Joseph Kosinski, “Tron: O Legado” traz de volta ao grande ecrã o mundo digital que há quase três décadas revolucionou a indústria cinematográfica, ao recorrer quase na sua totalidade a efeitos visuais criados por computador. Agora um jovem nos seus vinte e muitos anos, Sam Flynn nunca superou o desaparecimento inexplicável e inesperado do pai, o mítico programador informático Kevin Flynn, inventor de vários videojogos que o tornaram uma lenda. Sucessor contrariado de um legado de milhões – a cena inicial, apesar de ainda longe do delírio visual digital que se aproximava, agarra rapidamente à narrativa o espectador mais descontextualizado ou mesmo desconhecedor da fita original de 1982 – Sam vai no entanto investigar a origem de uma mensagem supostamente enviada do antigo local de trabalho do seu pai, encerrado desde o seu desaparecimento. Entre códigos informáticos e raios laser, é surpreendentemente arrastado para um universo cibernético assombroso na sua escuridão e magistralmente exótico e caprichoso no jogo de luzes que o irrompe, entre prédios, discos luminosos e batalhas motorizadas. Sem perceber bem por onde anda nem o que tem que fazer, Sam vai embarcar numa odisseia hi-tech, que culminará no reencontro com o seu pai.
Produzido e financiado pela Disney, é justo começar por dizer que “Tron: O Legado” é um blockbuster de entretenimento visualmente imaculado e atractivo, que na diferença entre o original e a sequela demonstra na perfeição a evolução dos efeitos especiais computorizados na Sétima Arte durante os últimos trinta anos. Com um surpreendente Garrett Hedlund a bom ritmo, Olivia Wilde a cumprir os mínimos enquanto coqueluche virtual e com o multidisciplinar Jeff Bridges de volta às suas duas personagens (Kevin Flynn e Clu), mas com idades... diferentes, ou não fosse este um filme onde não há limites nem fronteiras artísticas, as principais estrelas da fita são, no entanto, um rol de desconhecidos que, brilhantemente, num herculeano trabalho de pós-produção, transformaram uma narrativa assim-assim, por vezes demasiado presunçosa ao querer chegar mais longe com os trunfos errados, com diálogos e ideias aqui e ali tão patetas quanto confusas, numa fita imperdível para qualquer cinéfilo que não descrimina implacavelmente os sentidos em função da mente.
Claramente influenciado por clássicos da ficção-científica como "Blade Runner" – dos elevadores para os céus à caracterização das personagens femininas – e, entre outras referências culturais, com uma homenagem algo catastrófica ao Ziggy Stardust de David Bowie – Michael Sheen é tão pouco credível na pele de Zeus que acaba por parecer aos olhos dos utilizad... perdão, espectadores, um simples albino sempre com resposta ridícula na ponta da língua -, “Tron: Legacy” é uma doce delícia visual e digital que, enquanto impulsionada na sua área de conforto – a acção e não o drama – é capaz de mandar o cinéfilo mais “nerd” para o hospital com um ataque diabético. Por fim, apenas destacar a banda-sonora fenomenalmente moldada dos franceses Daft Punk à onda futurista da obra de Kosinski.
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