Piscine é um indiano com uma história de vida inacreditável. Depois de uma infância passada num jardim zoológico administrado pelo pai e numa escola onde era gozado pelo seu nome invulgar, Pi - como a certa altura prefere ser chamado para evitar constrangimentos - parte com a família e com todos os animais do zoo numa viagem de barco rumo ao Canadá, onde por motivos financeiros o seu pai vai continuar com o negócio de sempre. Praticante curioso de várias religiões, do budismo ao cristianismo, sem esquecer o hinduísmo, todas as suas convicções vão ser postas à prova quando fica, consequência de uma tempestade severa, à deriva num bote no meio do Oceano Pacífico, acompanhado por um tigre-de-bengala, uma hiena, uma zebra ferida e um orangotango. Aí enfrentará os duzentos e vinte e sete dias mais longos da sua vida, com muitas peripécias e histórias para contar pelo caminho.
Realizado pelo conceituado Ang Lee - galardoado com o Óscar de melhor realizador com este filme -, "A Vida de Pi" é uma belíssima fábula sobre a essência do ser humano no seu processo contínuo de amadurecimento, onde valores, fé, crenças e hábitos são colocados constantemente em jogo nas mais diversas situações e obstáculos da vida, de forma a moldar a nossa personalidade e a nossa percepção existencialista neste universo. Visualmente arrebatador - foi mesmo o vencedor da noite para a Academia nas categorias técnicas -, é espantoso o nível de autenticidade que os animais apresentam - especialmente o tigre-de-bengala digital, que engana na perfeição o mais picuinhas dos espectadores. Numa história difícil de narrar - e filmar, já agora -, mérito para como Ang Lee consegue coordenar de forma equilibrada as várias vertentes da produção, arquitectando uma obra tão sólida e credível tecnicamente como cativante e acolhedora a nível narrativo. E, prova disso, é aquela provocação final que deixa a dúvida sobre a veracidade de tudo o que acabamos de assistir.
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