O título não é meu, mas sim uma adaptação daquele que foi usado pelo norte-americano Chicago Tribune para anunciar a morte do crítico de cinema mais conceituado de sempre. Falamos, obviamente, de Roger Ebert, o primeiro na sua arte a conquistar o mais respeitado prémio jornalístico do planeta - os prémios Pulitzer - e aquele que impulsionou como nenhum outro a democratização e credibilização da crítica de cinema entre gerações, segmentos sociais diversos e, acima de tudo, dentro da própria indústria cinematográfica. Nascido em Urbana a 18 de Junho de 1942, Roger Joseph Ebert massificou a sua escrita e a sua forma de ver cinema, ao longo de mais de quarenta e cinco anos de colaboração com o Chicago Sun Times, com uma abordagem tão artística e informada quanto acessível a qualquer público e, muitas vezes, divertida e criativa - em forma de canção, carta aberta ou conversa com alguém imaginário. Com uma postura contrária à da maioria daqueles que fazem e fizeram da crítica de cinema o seu ganha pão, Ebert sempre fugiu ao rótulo de intelectual, defendendo que qualquer análise a um filme deve ser relativa e nunca absoluta. Ou seja, o agora falecido Ebert criticava cada filme de acordo com o impacto que sentia que este ia ter no seu público-alvo, deixando apenas uma pequena parte da apreciação para o seu valor enquanto obra-de-arte. Assim mesmo explicou um dia a um dos seus leitores, indignado com a classificação atribuída por Ebert a um blockbuster de acção: "Quando perguntas a um amigo se ele achou o Hellboy alguma coisa de jeito, não lhe estás a pedir para o comparar ao Mystic River, mas sim em relação ao The Punisher, por exemplo. A minha classificação tem sempre isso em conta".
Mas não foi apenas a crítica impressa que o tornou no crítico mais aclamado e respeitado dos Estados Unidos da América. A culpa, aí, deve-se também a três décadas de aparições semanais na televisão norte-americana, em programas influentes e inovadores para a altura em que foram feitos, com recordes de audiências, que abordavam pela primeira vez as estreias em sala de forma crítica e não apenas propagandista. Foi aliás daqui que surgiram os famosos "thumbs up" ou "thumbs down", na sua parceria de vinte anos com Gene Siskel, crítico da concorrência nos jornais, mas compincha de muitas batalhas, desentendimentos e gargalhadas na televisão durante vinte anos. Dos jornais e revistas à televisão, dos livros publicados às suas palestras na Universidade de Chicago, Ebert conquistou uma legião de fiéis seguidores, mais tarde recompensada com um acompanhamento praticamente diário no seu blogue pessoal (rogerebert.com) e nas diversas redes sociais em que participava. Sempre a par das mais recentes tecnologias - foi um dos primeiros investidores da Google quando esta era apenas um projecto de dois miúdos, o que acabou por lhe render vários milhões de dólares -, Ebert abandonou este mundo, no entanto, pouco convencido com o reaparecimento da tecnologia 3D no cinema, catalogando esta como distractiva e pouco realista.
Rico e famoso neste novo milénio, desengane-se, no entanto, quem julga que a vida de Ebert sempre foi um mar de rosas. No seu blogue e, posteriormente, na sua biografia - Life Itself, da qual falarei numa próxima entrada -, confessou ter tido problemas graves com o álcool durante os anos setenta, que lhe levaram inclusivamente a recorrer a várias sessões de terapia entre alcoólicos anónimos. Da paixoneta não correspondida por Oprah - a quem recomendou que tentasse ter o seu próprio programa de televisão no início dos anos oitenta - a uma estrela inédita no Passeio da Fama de Hollywood, o assumidamente democrata e agnóstico Roger Ebert tornou-se no mais influente crítico da história dessa forma de arte tão obscura quanto ingrata que é a crítica de cinema. Por isso, durante os próximos dias, o Cinema Notebook presta-lhe homenagem recordando alguns dos factos e curiosidades que marcaram a sua vida e carreira. Segue a ordem de trabalhos, para os mais curiosos:
Roger Ebert - O Crítico com Alma de Poeta (I/X)
Roger Ebert - A Grande Entrevista (II/X)
Roger Ebert - Nas Palavras dos Outros (III/X)
Roger Ebert - Questions for the Movie Answer Man (IV/X)
Roger Ebert - A Paixão pelos Cartoons (V/X)
Roger Ebert - Os Melhores e os Piores (VI/X)
Roger Ebert - No Outro Lado da Barricada (VII/X)
Roger Ebert - Citações para a História (VIII/X)
Roger Ebert - Life Itself (IX/X)
Roger Ebert - A Despedida (X/X)
4 comentários:
Grande iniciativa, irei acompanhar todas as edições. E Roger Ebert é Roger Ebert, e não tenho dúvidas de que vai ser aqui muito bem homenageado!
Cumprimentos,
Rui Alves de Sousa
Fixe, estou agarrado!
Vou tentar acompanhar a iniciativa, muito boa por sinal. Força.
Cumprimentos,
Jorge Teixeira
Caminho Largo
Obrigado Rui, Edgar e Jorge, espero que tenham gostado! Abraços!
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