Vencedor do Prémio do Júri no Festival de Cannes de 2008, "Il Divo - A Vida Espectacular de Giulio Andreotti" condensa o bem e o mal de uma personalidade singular num retrato de estilo caricato, que arranca em dificuldade - muitas personagens e demasiados simbolismos dificultam a compreensão do contexto e da narrativa a quem é apresentado pela primeira vez a todo este "circo" sociopolítico - mas termina em beleza, com magníficos diálogos - destaque para o duelo entre o fruto do acaso e a vontade de Deus -, provocações ao espectador e várias zonas cinzentas na história de um Homem cujo poder se alimentava na sombra. Sorrentino brinca com os planos e com a respectiva sonoplastia, toma partido em enigmas ainda hoje factualmente misteriosos - como o encontro d'O Papa Negro com "A Besta" - e choca o espectador contrariando imagens a desmentidos verbais. Andreotti acaba por servir a Sorrentino enquanto espelho ustório de uma Itália cujo sistema político continua autista, fechado em si próprio, acima da justiça e dos tribunais; prova disso mesmo foi Andreotti, condenado posteriormente aos acontecimentos relatados no filme a mais de vinte anos de prisão pelo envolvimento com a Máfia em vários crimes, mas que acabaria no entanto por ver a sua sentença ser anulada pelo Senado, que o considerou intocável. Destaque final para o papelão de Toni Servillo, napolitano cuja carreira neste género criminal tem-se revelado intocável.
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