domingo, dezembro 07, 2014

Interview with the Vampire (1994)

Baseado numa obra de tremendo sucesso nos Estados Unidos da América nos anos setenta do século passado, "Interview with the Vampire: The Vampire Chronicles" foi planeado como o primeiro filme de uma série de capítulos cinematográficos dedicados à saga literária de Anne Rice, uma que, em grosso modo, pode ser comparada a nível de fanatismo e sucesso comercial à recente onda "Twilight" que assolou as livrarias, os cinemas e, porque não, assombrou os cinéfilos nos últimos anos, também com vampiros à mistura. A comparação é ingénua, já que num género dominado pela futilidade juvenil, "Entrevista com o Vampiro" é uma pedra rara e preciosa. A sua sequela, "Queen of the Damned" oito anos depois, baseada no terceiro livro da saga (ninguém percebeu onde foi parar o segundo), já é outra conversa. Uma que não merece espaço nesta análise.

Mas comecemos pela polémica que se instalou entres fãs, fanáticos e a própria escritora quando Tom Cruise foi escolhido para o papel de Lestat na adaptação cinematográfica de Neil Jordan. Demasiado baixo, afirmaram alguns; muito comercial, criticaram outros; e, preparem-se, expoente máximo de heterossexualidade e do machismo em Hollywood, numa personagem que se queria incerta sobre a sua sexualidade. Ora bem, o que acabou por acontecer foi que Cruise convenceu gregos e troianos com a sua interpretação cativante de uma criatura diabólica e emocionalmente conturbada, entregando-se de corpo e alma à inquietação carnal da sua personagem, fazendo inclusivamente com que o conceituado crítico de cinema da revista Time, Richard Corliss, fosse violentamente atacado pela opinião pública quando, de forma algo homofóbica, considerou o filme uma "fábula para gays". O desempenho de Cruise foi tão unânime, que a própria Anne Rice publicou um texto de duas páginas em vários jornais de referência, pedindo desculpas ao actor pelas duras palavras que lhe destinou em várias entrevistas, aquando da escolha do Top Gun para o papel principal.

Adaptação sombria, luxuosa, gótica e aparentemente fiel aos princípios literários de Rice, Neil Jordan, para o bem e para o mal, levou "Entrevista com o Vampiro" para um caminho cinematográfico muito personalizado, dentro do estilo autoral em que se sentia confortável e que tão bem lhe tinha servido no passado, conseguindo não ser pressionado pelo estúdio a aligeirar o conteúdo erótico perverso da escrita de Rice, nem o constante sentimento melancólico que a eternidade e a impossibilidade de uma morte tranquila provocava em personagens cujos vestígios humanos estavam em guerra aberta com a natureza vampiresca do seu sangue. E, no meio de tudo isto, conseguiu ainda dar algumas pinceladas de humor negro, quase sempre evidenciadas em cenas cuja família disfuncional - Cruise, Pitt e Dunst - entrava em conflito: "Never kill in the house!", gritou por mais de uma vez Cruise para Dunst.

Sim, Kirsten Dunst, aqui apenas com onze anos, uma vampira adulta eternamente prisioneira num corpo de criança. Uma performance portentosa que a lançou em Hollywood e que lhe valeu, inclusive, uma nomeação para Melhor Actriz Secundária nos Globos de Ouro desse ano. Já Brad Pitt, com muito tempo em cena mas poucas oportunidades para brilhar, Christian Slater, Antonio Banderas e a presença habitual na filmografia de Jordan, Stephen Rea, cumprem sem percalços nem grandes rasgos o que lhe é pedido.

Lançado em Novembro de 1994 e com um orçamento de sessenta milhões de dólares, "Interview with the Vampire" arrecadou duas nomeações técnicas aos Óscares e mais de duzentos milhões de dólares em todo o mundo, tendo-se perdido a saga inicialmente planeada nas supostas recusas de Cruise e Pitt em reencarnar as suas personagens. Para a história ficou um filme visualmente intenso, elegantemente pervertido, em que nos é pedido que nos identifiquemos com os vilões e não com as vítimas - e, por isso, nunca é verdadeiramente um filme de terror. Amor, arrependimento e culpa ao som de uma "Sympathy for the Devil" tocada pelos Guns N' Roses.

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