Uma campanha de marketing fenomenal - das redes sociais à imprensa tradicional, da interacção directa com o público à partilha de análises positivas de todas as esferas, de sites especializados a blogues desconhecidos -, um super-herói português cheio de pinta e a promessa de uma crítica político-social mordaz à história recente de Portugal. Tudo sublimemente bem engendrado para bater recordes a nível interno, gerar boa vontade e entusiasmo no passa-a-palavra, criar uma ponte segura entre o público e o cinema nacional. O filme, esse, deixa uma sensação agridoce no espectador que conseguiu manter os olhos livres de areia no meio desta tempestade no deserto: se por um lado a obra de João Leitão é um portento técnico e artístico (créditos iniciais, visual e guarda-roupa excêntrico, coreografias de acção) tendo em conta os meios e fundos com que foi orquestrado, por outro a sua narrativa parece satisfazer-se apenas com o suficiente, as one-liners que ficam no ouvido, os lugares comuns de acção-reacção de tantas outras aventuras do género, adaptadas ao ambrosíaco contexto fascista/comunista do Estado Novo. A mesma ambivalência ao nível da direcção de actores: se Gonçalo Waddington e José Pinto dominam de forma majestosa o overacting requisitado, já outros - Rui Mendes e Matamba Joaquim, principalmente - falham rotundamente nessa vertente de interpretação. Outra dualidade: a uma cena brilhante a todos os níveis - o jantar interrompido pelo comuninja -, segue-se outra pateta, previsível e preguiçosa - a do interrogatório pasteleiro. Ainda assim, verdade seja dita no meio de todas estas oscilações, "
Capitão Falcão" é uma injecção de alento ao panorama cinéfilo nacional, uma aposta corajosa num género virgem - até os Capitães de Abril são literalmente pintados de Power Rangers -, uma espécie de blockbuster de culto dentro de portas que merece a sua sequela contra o Flamingo. Porque quem não sente a ânsia de ser mais, não chegará a ser nada.
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