Um Letterman em pleno início de carreira faz a introdução ao mestre dos grindhouses; seguem-se Jack Nicholson, Martin Scorsese, Ron Howard, Bill Carradine e Peter Fonda, entre tantos outros. Falamos, claro, de Roger Corman, o homem eloquente com “mau gosto” responsável por mais de quatro centenas de filmes em Hollywood, muitos deles verdadeiros clássicos do cinema de série B a Z, da ficção científica de tostões aos exploitation de mamocas, explosões e jorradas de sangue aos trambolhões. Dinossauros tubarões – ou seriam tubarões dinossauros em “
Dinoshark” –, monstros ridículos e corpos decapitados, fosse o que fosse, rendiam mais do que custavam ao produtor/guionista/realizador/motorista/oquefossepreciso Corman. O seu melhor filme, nas palavras do próprio e da imprensa? "
The Intruder", com William Shatner, o único que não lhe pôs um cêntimo no bolso, ou não fosse uma crítica social ao racismo em forma de drama, sem sangue, sem terror, sem excentricidades artísticas. O público sentiu-se traído nas suas expectativas e Corman percebeu que a sua carreira estava prisioneira de uma corrente cinematográfica, no mínimo, alternativa. Para quê guiões complexos quando chegavam mamalhudas a disparar sobre filipinos na selva sem qualquer razão aparente para satisfazer as audiências? “
Corman’s World” é uma belíssima homenagem em vida a um dos produtores mais importantes, independentes e influentes da “nova Hollywood”, quase sempre olvidado pelos grandes da indústria e pelos holofotes dos galardões. Um forreta – são várias as histórias no documentário, do desligar dos ares condicionados a não fazer chamadas telefónicas internacionais para a noiva, que comprovam isso mesmo – que produzia muito “lixo” mas importava através da sua empresa de distribuição nos EUA tudo o que era obras de homens que admirava, como Fellini, Bergman ou Kurosawa, dando-os a conhecer a gerações de norte-americanos que de outra maneira não teriam acesso aos mesmos. Um homem que abriu as portas da fama e do sucesso a inúmeras estrelas da Sétima Arte; sem ele, Jack Nicholson e Pam Grier, por exemplo, seriam hoje cidadãos anónimos. Uma lenda que merece ser descoberta e redescoberta por qualquer cinéfilo que se preze.
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