segunda-feira, novembro 09, 2015

Ronaldo (2015)

Vamos começar por uma declaração de interesses: sou fã de Cristiano Ronaldo, torço sempre pelo seu sucesso acima de qualquer outro futebolista - não só por ser português, mas por já ter demonstrado variadas vezes ser um homem solidário e altruísta - e vibro com as suas vitórias. Tudo isto não significa que, dentro das quatro linhas, não considere Lionel Messi como o melhor jogador da história do futebol, um desportista que coloca o colectivo acima do individual, que festeja os golos dos seus colegas com a mesma intensidade que celebra os seus. Nem sempre foi assim, mas hoje Ronaldo é uma besta dentro do campo - no bom e no mau sentido da palavra -, um futebolista que prefere ganhar por uma bola a zero com um golo seu do que ver a sua equipa espetar cinco e não constar na lista dos marcadores. O documentário de Anthony Wonke, produzido por Asif Kapadia (responsável pelo excepcional "Senna") segue a mesma linha: três minutos dedicados à conquista maior que uma equipa europeia pode almejar (Liga dos Campeões), trinta a falar das Bolas de Ouro de Ronaldo. Fosse o seu mal maior esse.

A grande verdade é que não existe, neste momento da sua vida, qualquer razão de ser neste "Ronaldo" que não um capricho de um ego tão inflamado que já não sabe o que fazer para se promover. Mostrar uma garagem repleta de carros de luxo, uma relação apaixonada (ou seja, normal) de pai-filho e o dia-a-dia de um futebolista de elite e daqueles que o rodeiam não é propriamente uma história de vida que mereça destaque. Mais interessante seria, por exemplo, um documentário sobre a Dona Dolores, uma mulher que teve que criar quatros filhos em condições humildes, lidar com um marido alcoólico que descarregava nela as suas frustrações, que viu o filho mais velho seguir o mesmo caminho do pai e que, depois de decidir não abortar um filho indesejado - nada mais nada menos que CR7 -, teve que o "abandonar" em criança. E, tantos anos e tantas lutas depois, perceber como foi a transição súbita da pobreza para a riqueza extrema.

Seja como for, como documentário "Ronaldo" é frágil e frouxo. A razão principal é óbvia: ao contrário do que é costume nos grandes títulos do género, repletos de histórias e imagens de arquivo, quase todos os fotogramas da vida de Ronaldo são falsos, fabricados perante as câmaras pelos protagonistas que sabem que estão a ser filmados com o fim de serem transformados em estrelas de cinema. O que ali há de honestidade ou de representação, só os próprios saberão. Se não são fanáticos por Cristiano Ronaldo, fiquem-se pelo trailer. É bem melhor que o produto final. Dúvidas? O Daniel Oliveira já fez melhor (não muito) e nem precisou de uma hora.

1 comentário:

Os Filmes de Frederico Daniel disse...

Ronaldo: 4*

"Ronaldo" é um dos documentários mais íntimos que já vi e surpreendeu-me pela positiva, sinceramente não esperava que este documentário fosse tão bom como é.

Cumprimentos, Frederico Daniel.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...