O conceito criminal que serve de mote ao enredo de "
O Desconhecido do Norte Expresso" tem Hitchcock soletrado em todas as sílabas daquela inesperada conversa inicial numa viagem de comboio. Não admira, portanto, que o inglês tenha comprado os direitos de adaptação do romance de estreia de Patricia Highsmith assim que o livro ficou disponível; uma troca de crimes entre duas personagens, um homem tão louco quanto hábil, o caos, a chantagem, os diálogos agonizantes de tão umbráticos que são, o final em êxtase, imagine-se lá, num carrossel. Nem tudo é perfeito: o guião perde alguma consistência e torna-se demasiado conceptual na passagem para o terceiro acto; o que era tão complicado e sombrio, rapidamente - e facilmente, já agora - perde a nuvem que o ameaçava. Ainda assim, uma obra repleta do talento e de várias imagens de marca de Hitchcock, naquele que foi o último papel - e que papelaço - de Robert Walker, falecido poucos meses depois das filmagens, aos trinta e dois anos, devido a uma reacção alérgica a um medicamento. Uma morte inesperada que fulminou a carreira de um dos mais promissores e carismáticos actores da sua geração.
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