sábado, setembro 23, 2017

Mother! (2017)

Spoilers. Vêm aos pontapés nas próximas linhas, pelo que se sugere cautela ao leitor mais coca-bichinhos. Ou não, pois pela primeira vez na minha conturbadíssima carreira cinéfila - a tal que mete o Van Damme na mesma prateleira do Fritz Lang - sinto que seria fundamental seguir para um filme com umas guidelines do que se vai passar a seguir. Mas já lá vamos. Há duas maneiras de apreciar "Mãe!", a mais recente experiência do magnânimo Darren Aronofsky, nova-iorquino responsável por duas obras-primas que deixaram marcas profundas no meu mais profundo eu: "A Vida não é um Sonho" e "O Último Capítulo". A primeira é sair revoltado da sala de cinema com a brutalidade (aparentemente) aleatória que pautou uma narrativa sem pés nem cabeça, onde pouco ou nada faz sentido e tudo parece ser demasiado excessivo, absurdo e gratuito. Vamos para casa irritados, a nossa mulher avisa que nunca mais põe os pés num cinema connosco e não há strikinight durante uma semana. A segunda, felizmente, acaba por ser muito mais gratificante: dois minutos após ter passado pela primeira alternativa, pegar no smartphone e procurar intento em todas as alegorias e metáforas que foram bombardeadas durante duas horas numa espiral inquietante de revolta e angústia. E aí percebemos, até pelas respostas de Aronofsky em algumas entrevistas, que tudo não passa de uma representação cinematográfica de elementos chave da Bíblia e da nossa existência, onde Ele é Deus, ela a Mãe Natureza, os primeiros visitantes Adão e Eva, os seus filhos Caim e Abel, etc. etc. E, de repente, tudo faz sentido. Do fruto proibido (cristal) que levou ao pecado original, do poema enquanto Novo Testamento, do bebé enquanto representação de Jesus Cristo, do seu corpo enquanto pão e o seu sangue enquanto vinho, dos humanos a destruírem o planeta até a Mãe Natureza não ter outra alternativa que não o Apocalipse, etc. E, depois de tudo isso, todo o novo ciclo de vida que irá surgir. E, assim do nada, "Mother!" passa a ser uma experiência dos diabos - se é que a expressão é aqui permitida -, ainda para mais se tivermos em conta que toda esta estilização é moldada em forma de filme de terror, subvertendo todas as suas convenções. A Jenninha? Por mim podem-lhe dar já a estatueta, não é preciso esperar até Fevereiro.

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