Conhecedor q.b. de muitas das histórias em torno de Pablo Escobar, foi com um misto de curiosidade e desconfiança que enfrentei este sucesso de massas da Netflix. Infelizmente, tudo somado, a desconfiança acabou por vencer a curiosidade. Ninguém nega o talento de Padilha como maestro, a forma harmoniosa como monta as imagens de arquivo com a ficção ou até a exploração de vários ângulos pouco conhecidos - principalmente por parte de quem o tentava capturar - na abordagem a uma vida profícua em excessos ora de vilão ora de anti-herói. Mas a verdade é que "
Narcos" também parece arrancar já na décima nona temporada de uma personalidade que foi criada ao longo de muitas aventuras e desventuras completamente ignoradas aqui - do roubo de cemitérios, ao pequeno criminoso e sequestrador, às suas inúmeras viagens de avião para transporte de drogas, ao seu papel de mecenas do povo, construindo incontáveis centros de saúde e campos de futebol pelas aldeias onde acabaram por surgir alguns dos mais conhecidos jogadores colombianos, à lavagem de dinheiro através de um clube onde foi dono e presidente (matar um árbitro ou outro revelou-se um passatempo que lhe valeu uma vitória na Copa Libertadores, a primeira da história das equipas colombianas), às jogatanas com a selecção colombiana na sua "
catedral", etc. etc. etc. (e muitos, mesmo muitos mais etc. que foram ignorados ou esquecidos). E, por isto tudo, esta primeira temporada soube a muito pouco, quase uma espécie de Escobar resumido naqueles livros amarelos para quem não tem paciência para estudar para os exames. Para o que vem daí em diante, pouco sobra até à sua morte. Ainda assim, no meio daquele sotaque duvidoso mas olhar convincente de Wagner Moura, não há como deixar as coisas por aqui. Mesmo que o melhor a fazer fosse rever "
The Two Escobars".
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