Quando um inexplicável desastre cósmico atinge a Terra e os raios de sol matam tudo o que mexe, qual micro-ondas galáctico, um grupo de pessoas a bordo de um avião que ligava Bruxelas a Moscovo entra numa luta pela sobrevivência, voando sempre para oeste na escuridão, aterrando apenas para reabastecer. Se o conceito é utópico - nem estou a referir uma teórica polarização electromagnética do planeta que nos mate a todos mas sim a corrida contra a luz num avião sem qualquer suporte em terra entre paragens -, a concretização do mesmo é ainda mais descuidada. Ninguém nos bastidores liga a um único pormenor, das pistas que acabam em edifícios, dos timings que não batem certo, do virar na direcção errada sem consequências, de deixarem conduzir o único que está ferido de modo a dar asneira, de um passageiro aprender a aterrar um avião comercial num video de YouTube, da falta de emoção após familiares, conhecidos e, bem, o planeta inteiro, ter ido com os porcos - literalmente, pois os animais também fritaram a tola -, de tudo o que uma narrativa a quinhentos à hora mais preocupada com os conflitos entre passageiros do que com o drama do apocalipse deixa pelo caminho. Mas, entre tudo o que provoca risos quando os fios das marionetas tentam puxar no sentido oposto - não bastava o fim do mundo, temos ainda a criança doente a precisar de um transplante, o marido que morre de cancro e a esposa que se quer suicidar -, fica sempre connosco a velocidade, os tais quinhentos à hora que não nos convencem mas que também não nos deixam adormecer. Se uma segunda temporada sobreviver aos impactos do Covid-19, lá estarei para ver o fim deste desastre aéreo.
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