Clássico thriller sobrenatural de Nicolas Roeg, "
Aquele Inverno em Veneza" revela-se uma obra inquietante, pungente e enigmática no meio dos seus raccords ousados - os primeiros quinze minutos são um hino ao cinema -, na constante luta de Sutherland e Christie para sobreviver à pressão colocada no casamento após a morte trágica da sua filha. Muitos tirarão as suas próprias conclusões dos inúmeros simbolismos visuais e narrativos que invadem o quotidiano de ambos em Veneza - eu a certa altura deambulei pela teoria de que terá sido o outro filho do casal que matou a irmã, não sabendo o casal lidar com isso e, por isso mesmo, enviando-o para um colégio interno -, mas ninguém me tira da cabeça não só o impacto chocante daquela temível cena final como a desilusão pessoal pelo facto de Roeg ter levado uma história psicológica e humanamente tão complexa para o caminho banal e conveniente de, e atenção aos spoilers daqui em diante, uma assassina anã que se veste como a filha do casal porque sim, sem qualquer explicação plausível para tal engodo, uma mera casualidade que se envolve e embrulha na mensagem-chave do seu final: passadas todas as fases e formas de luto, não só não se consegue ultrapassar a morte de um filho, como a mesma ainda nos pode levar ao nosso próprio fim. Tirei eu, pelo menos, disto tudo. Não era preciso uma assassina em série.
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