Thriller policial com pinta de slasher, tão ousado no ambiente em que circula como na crueldade e no arrojo homoerótico das suas imagens e dos seus temas. Al Pacino a todo o vapor, seja de casaco de cabedal ou de rabo à mostra e mãos atadas, numa das mais controversas obras de William Friedkin, aniquilada pela crítica e pela indústria aquando da sua estreia, como comprovam várias nomeações aos Razzies. Por vezes confuso, outras vezes desconexo - o que poderá até ter sido propositado para colocar o espectador na mesma perspectiva de um detective completamente às escuras num chocante novo mundo - é no seu final ambíguo que retiro quase todo o sumo de uma experiência cinematográfica singular: Burns era também ele alguém enclausurado num armário, sexualmente frustrado, que fez o mesmo que o assassino em série para manter essa sua faceta escondida. Um acto do passado, presente e futuro, que continuará a ser repetido enquanto o mundo revelar-se um lugar violentamente homofóbico. Uma alegoria forte, mas não tão forte como o chapadão totalmente aleatório do negrão de tanga na sala de interrogatório.
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