Documentário polémico da HBO sobre a "eterna" dúvida em torno da relação de Mia Farrow e Woody Allen que envolve alegados abusos sexuais deste último com a filha do casal de sete anos. Mais do que um referendo sobre a culpa ou inocência do realizador nova-iorquino - o documentário é objectivamente parcial, mas apoia essa faceta numa panóplia de factos e testemunhos descobertos em documentos policiais arrumados há mais de vinte anos em sessenta caixotes, escutas telefónicas, depoimentos em tribunal de envolvidos e psicólogos profissionais com experiência na área, etc, pelo que é fácil compreender essa inclinação no final -, "
Allen v. Farrow" é um trabalho de contextualização de uma história cuja percepção pública foi várias vezes deturpada pelo "spinning" de vários assuntos colaterais - principalmente a relação com a filha adoptiva de Farrow de dezassete anos - em nada relacionados com esta acusação específica de abuso sexual de menores. Não, Allen nunca foi julgado por esse crime e considerado inocente, como todos já ouvimos dizer. Allen foi a julgamento pela custódia dos filhos de Farrow; e perdeu. Neste caso específico, o procurador decidiu não levar o caso a julgamento, supostamente baseado num relatório de uma instituição com credibilidade na área. "
Dylan parece estar a mentir", declarou o director da mesma. Algo que descobrimos agora foi a conclusão exactamente contrária das várias entrevistas realizadas pelas duas psicólogas da instituição, cujas notas e relatórios foram não só ignorados, como destruídos, ao contrário do que a lei obriga. Sim, Allen passou num teste de polígrafo. Um teste privado, tendo recusado fazer o do departamento policial de Connecticut que investigava o caso. Entre muitas outras revelações. Já percebi como se sentem os portistas sempre que se fala no Apito Dourado e alguém partilha as escutas telefónicas que não foram consideradas válidas em tribunal: eu também tenho uma paixão enorme pela filmografia e pela arte de Allen, mas a única maneira de negar o óbvio é dizer que o assunto nunca foi provado em tribunal. O que, todos sabemos, não muda a verdade, por mais que Allen diga numa conversa telefónica agora revelada "
que não interessa a verdade, interessa o que as pessoas vão acreditar". Facada no coração, mas eu acredito na Dylan.
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