"
King Richard" tem sido apontado por muitos como um biopic meramente formatado para as estatuetas, com os ingredientes todos para não falhar - a mensagem que enche o coração e todas as barreiras raciais e adversidades sociais que são ultrapassadas rumo à glória - mas que raramente ousa sair da sua zona de conforto, da imagem quase pura e benfeitora de Richard Williams, reforçada pelo título escolhido para a obra. Conseguindo concordar com essa perspectiva, principalmente no que toca à forma como o lado lunar de Richard Williams é ignorado ou amaciado - uma pesquisa rápida na internet conta-nos uma série de histórias e traições que não são aqui abordadas -, algo natural se tivermos em conta que as próprias filhas assumiram a produção do filme e que muitos desses episódios aconteceram depois desta fase juvenil das irmãs Williams que é aqui retratada. Ainda assim, muito mérito na forma extremamente laboriosa e competente como Reinaldo Marcus Green monta todo o percurso, filma o desporto e consegue transformar uma odisseia de duas horas e meia numa experiência compacta e ritmada, em que duas jovens actrizes e Aunjanue Ellis (mãe) brilham, na minha opinião, ainda mais que Will Smith. Aliás, se olharmos para toda a história de vida daquela família e pela forma quase hipócrita como evita o conflito e a descredibilização da figura paternal, não se percebe o porquê do filme não ter sido intitulado "Queen Oracene" e focar-se antes na perspectiva maternal do trajecto de Venus (e Serena) até ao estrelato. E porra, Will Smith, nem umas aulinhas de ténis para preparar a personagem?
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