terça-feira, março 01, 2022

Pleasure (2021)

Sofia Kappel dá o corpo ao manifesto nesta sua estreia na grande tela. E que estreia, numa performance tão vulnerável quanto exigente no meio de uma mão-cheia de cenas de uma brutalidade visual tremenda, da violação disfarçada de sessão de sexo hardcore previamente consentida pela própria ao ménage BBC mais querido da história do cinema - provavelmente o único. Espectro largo e ambivalente num retrato cru de uma indústria numa era decisiva da mesma - a ascensão do OnlyFans representa todo um novo paradigma no papel e na autonomia de gestão profissional das carreiras femininas -, com interessantes escolhas cénicas e visuais - das cores fortes e vivas aos vários subgéneros pornográficos representados - mas de uma banalidade atroz nos temas mais comuns que abraça, da amizade à concorrência. Os "sim's" arrancados por palavras e contractos de circunstância, o prazer (ou a falta dele) e a misoginia estrutural simbolizados num discurso e numa mensagem que não os elogia mas também não os condena. Porque a Bella de Sofia sente-se perdida na perseguição do seu "sonho americano" e parece nunca arrancar nenhuma conclusão definitiva, por mais emocionais que sejam as suas cicatrizes.

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