sábado, março 17, 2007

Zelig (1983)

Leonard Zelig (Woody Allen) é um verdadeiro camaleão humano. Para além de chegar quase a fundir-se em si mesmo, em termos de personalidade e conhecimentos, com quem o envolve, Zelig passa por um processo de osmose tão completo que se torna igual às pessoas com quem se cruza. Com toda a gente, menos com o sexo feminino, que por tao complexo, não lhe permite a transformação adequada. Mas de resto, sejam gestos, a voz, as atitudes, o discurso ou as próprias ideias, tudo se transforma a um ritmo diabólico. Assim sendo, a vida de Zelig, o fenómeno, é uma aventura composta de retalhos de outras vidas e personalidades, até ao dia em que conhece a psicóloga Eudora Fletcher (Mia Farrow). A partir desse momento, o seu objectivo deixará de ser o desejo de ser bem aceite pelo grupo, mas sim a oportunidade de ser amado por uma mulher. Não fosse o seu problema uma doença mental...

A acção de "Zelig" decorre entre os loucos anos 20 e o início da II Guerra Mundial e Woody Allen, que realizou, escreveu e interpretou esta “falsa” comédia, faz rir e sorrir o espectador com uma sucessão delirante de referências históricas, literárias e cinematográficas. “Zelig” é uma caixinha de madeira oca (por ser um falso documentário) que reúne um conjunto fantástico de citações humorísticas memoráveis, mas também um leve dissabor sobre tudo aquilo que a película poderia ter alcançado e não o fez. Numa técnica mais tarde repetida e eternizada por Zemeckis em Forrest Gump, que, por assim dizer, coloca o presente no passado, Allen prova mais uma vez que é “o” cineasta da existência, tratando em “Zelig” daquela vontade que a todos toca, de sermos alguém que não somos.

Sendo sem dúvida alguma o filme mais conceptual de Woody Allen, “Zelig” é uma crónica sobre a ambiguidade e dualidade de qualquer tipo de realismo cinematográfico. E a prova maior desse facto, é que a própria noção de documentário é falsificada, num desafio claro que acabou por romper uma nova fronteira nos anos 80. No entanto, e tendo em conta o arrojo da premissa, é quase normal ao espectador sentir no final um pequeno amargo na boca, pela aposta não ter recaído numa pura obra de ficção, filmada sem narração e com personagens verdadeiramente fictícias e não adequadamente fabricadas para encaixar no estilo narrativo.

6 comentários:

Piotr O Sandinista disse...

Meu, podes ler o resto do post do Dexter à vontade que tive o cuidado de não meter nenhum spoiler :)

E já agora, deixa-me dar-te os parabéns pelo belo blog que tens aqui.

Carlos M. Reis disse...

Ok, vou por lá passar outra vez então :) Obrigado pelas simpáticas palavras Bruno. Cumprimentos!

Carlos Pereira disse...

Nunca vi este do Allen, mas deve valer a pena (como quase todos os seus filmes).

Olha podes mudar o endereço do "the other side of donnie darko" para http://the-last-chapter.blogspot.com/, uma vez que mudei recentemente :P.

Cumprimentos Knoxville e, já agora.. onde está a crítica ao "The Fountain"? :P

Carlos M. Reis disse...

Está mudado Carlos. Quanto ao "The Fountain", não passa desta semana. Infelizmente não tive ainda tempo absolutamente nenhum para ir ver um dos filmes que mais aguardo desde 2005/2006. Um abraço!

C. disse...

So 3 estrelas? tssst... tssst ;)

Carlos M. Reis disse...

Apenas porque, tal como expliquei, fiquei com aquela sensação que a magnífica ideia poderia ter dado para muito mais. Cumprimentos Wasted :)

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