terça-feira, julho 15, 2008

The Happening (2008)

Central Park, Nova Iorque. De um momento para o outro, numa manhã como tantas outras, os transeuntes ficam imóveis, disléxicos e demonstram fatais impulsos suicidas. Os mais simples objectos – olhemos para o primeiro acto irrevogável da fita, em que um gancho de cabelo serve de forma exemplar para passar a mensagem chave da premissa – transformam-se em meios eficazes de auto-flagelação. A explicação parece óbvia: os Estados Unidos estão a ser alvo de um ataque terrorista biológico. Mas serão as razões deste “acontecimento” assim tão lineares?

O Acontecimento” é, para o bem e para o mal, um espelho fiel da condição actual do seu realizador. Isto porque o indiano M. Night Shyamalan é, desde “A Senhora da Água”, um enigma de altas expectativas amado por uns e odiado por outros – principalmente pela crítica norte-americana -, que consegue sempre, para o bem ou para o mal, surpreender até o mais experiente dos cinéfilos. A Shyamalan não pode mesmo ser negado aquele toque mágico e talentoso que o confere uma característica cada vez mais rara, mas ainda muito apreciada em Hollywood: a da imprevisibilidade criativa. Sucessor genuíno do suspense de Hitchcock, o responsável pelos magníficos “Sexto Sentido”, “O Protegido” ou “A Vila” é um artífice magistral na cadeira de realizador – consegue orquestrar através de planos tão vulgares e ingénuos um sentimento tremendo de terror e desconforto – mas demonstra recentemente falhar por completo enquanto guionista, lascando de forma entorpecida as personagens, os diálogos e uma construção narrativa firme e irrepreensível.

Assim, em “The Happening”, Shyamalan sugere e promete muito, mas acaba por oferecer quase nada. O estilo e o engenho do indiano dominam e sobrepõem-se sobre a substância e por isso mesmo sentimos o barulho do vento ser bem mais convicente do que qualquer diálogo das personagens principais. Numa fábula apocalíptica contextualizada nos problemas actuais do planeta que um dia já pertenceu à Mãe-Natureza, “O Acontecimento” vale apenas pela força da sua mensagem e pela singularidade da sua realização. A claustrofobia do desconhecido dotava a premissa de um potencial enorme, mas a narrativa caminha sempre a passos largos para a banalidade de um qualquer argumento de série B. O elenco é pessimamente mal escolhido – ou mal dirigido – e a falta de um twist poderoso, tão típico do jovem realizador, desilude todos aqueles que assistem ao filme sobre o seu estigma. Em suma, fica a importante metáfora ecológica, mas perde-se para sempre aquela que poderia ter sido uma das histórias de amor mais complexas e completas dos últimos anos.

10 comentários:

Anónimo disse...

É verdade que tem defeitos, mas o espírito série-b assenta-lhe bem, as personagens choninhas não me incomodaram assim tanto e não acho que seja preciso um grande twist para o filme ser bom.
Cumps

CP disse...

Mesmo assim 3 estrelas?
És dos que ainda não perderam a esperança no jovem Shyamalan certo?
:)
Grande abraço

Anónimo disse...

Pela crítica também não estava à espera das 3 estrelas. :)
Eu não vi o filme e sou dos que não gosta do realizador, mas também só vi dois filmes.
O Sexto Sentido, já aqui disse, deixou-me satisfeito à saída do cinema, mas com o passar do tempo... não me convence a voltar a ver.
O Protegido, achei-o mau em quase todos os aspectos.
Este sou capaz de o ver na TV, para ver que tal está a Zooey :)

pseudo-autor disse...

O Shyamalan é marqueteiro, mas a mídia também tem culpa por que horas persegue, horas idolatra o cara (aquele papo de chamá-lo de o novo Spileberg foi dose!) No entanto, gostei de Fim dos Tempos. Coloco-o junto com A Vila entre os que mais curti. Ainda assim, considero o diretor uma incógnita.

Discutir a imprensa?
http://robertoqueiroz.wordpress.com

Anónimo disse...

Sei que pertenço à minoria, mas a mim encantou-me, tal como os restantes filmes dele. A forma como consegue ligar imagem e música é espantosa, causando sempre um eficiente clima de tensão. A história de amor, também é interessante, e funciona muito bem no tom catástrofico que vai construindo, (tendo o seu melhor momento na cena final).

Para mim, o trabalho de Shyamalan é inspirador, mesmo que o resto do mundo perca a confiança nele, ou não veja beleza nas suas obras.
Enfim, se dissessemos o mesmo sobre todos os filmes, isto não tinha piada nenhuma :P

Um grande abraço!

Maria Tavares disse...

Depois de Sexto Sentido, Shyamalan não tem, infelizmente, passado de uma decepção para mim, se bem que A Vila ainda escapou.
Não tenciono ver este filme. Não me quero ficar ainda mais revoltada com Shyamalan.
Fiquem bem=)

Anónimo disse...

Eu gostei do filme. Não é excepcional, mas acho que está acima de muito do que vê por aí, nem que seja pela originalidade dos enredos.
Não concordo com aqueles que consideram que Shyamalan seja um "one (ou two) hit wonder" ou que esteja a perder qualidades com o tempo, até porque devo confessar ter gostado imenso do Lady in the Water (para mim a obra mais bela do realizador), e acho algo ridículo apontar a falta de um twist como defeito de um filme (pior do que isso, ainda me lembro de algumas pessoas terem ficado revoltadas pelo facto de o twist de The Village ser no meio e não no final do filme...). Shyamalan tem-se tentado libertar desse "estigma" e julgo que está no bom caminho, apesar da notória falta de consensualidade das suas obras mais recentes.

Anónimo disse...

Ainda n vi, tal como a Senhora de Agua, talvez venha a ver, o Indiano foi grande durante o Sexto Sentido e o Protegido ( O Protegido e o meu favorito )... dai para cá é mesmo tal como o Spielberg, capaz de apresentar cinema do melhor, e também de nos dar grandes barretes!!!

Anónimo disse...

Eu tenho imensa vontade de ver. Abraço :)

Carlos M. Reis disse...

Gonçalo, eu confesso que fiquei bastante irritado com as interpretações dos dois principais. Foi talvez o que mais me desanimou. Um abraço!

CP, não perco até porque continuo a notar em todos os filmes traços de génio. Por isso... não há razões para tal ;)

Zelig, gostei bastante do Protegido. Talvez seja mesmo o meu favorito dele. A Zoey... desilude. No mínimo. Um abraço!

Contra-regra, ;) Cumprimentos, obrigado pela visita.

Paulo Ferreira, o Lady in the Water é talvez um dos únicos filmes que até hoje nunca consegui classificar. Saí do cinema e não sabia se o tinha amado ou odiado. Foi uma experiência única. Cumprimentos, volta mais vezes.

Nasp, eu o único barrete que considero que levei de MNS foi o "Sinais". É o único que não gostei mesmo. Um abraço!

Francisco ;) Do que estás à espera? É Verão e tudo ;)

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