
“Blindness”, de Fernando Meirelles, é uma obra que raramente respeita a liberdade escrita estilística de José Saramago, incluindo na sua adaptação cinematográfica várias vírgulas cuja implementação transforma a parábola do português numa sucessão de clichés narrativos que em nada favorecem o impacto da brilhante metáfora existencial e humana que, em 1995, conquistou milhares de leitores um pouco por todo o mundo. Desse modo, podemos partir a película em duas partes: a do enclausuramento, muitas vezes sem nexo, com artimanhas descritivas e expositivas claramente redutoras em relação ao livro, típicas de um qualquer filme epidémico de série B; e a pós-evasão, mais alegórica, que preserva a alma e o simbolismo da literatura de Saramago.
São nestes instantes, aliás, que conseguimos identificar a breve narração de Danny Glover com as entrelinhas do escritor. Numa odisseia entre os medos e os defeitos da raça humana, sentimos finalmente alguma subtileza crítica. Com um elenco irregular que cumpre, mas raramente brilha – e Julianne Moore tinha aqui papel para ser nomeada a vários prémios -, há que destacar a sumptuosa fotografia da fita e murmurar o que poderia ter sido de “Ensaio sobre a Cegueira” caso a transição do livro para o guião tivesse sido mais audaz. Assim, mais marcante do que a obra em si, acabam por ser as lágrimas de Saramago aquando do seu primeiro visionamento.
5 comentários:
É um filme que gerou muitas divergências nos cinéfilos, né? Rs... Já eu acho a Julianne Moore sensacional...
Abraços...
A Julianne Moore neste filme está brilhante. O filme também muito bom. O filme como é óbvio jamais poderia ultrapassar o livro ou mesmo equiparar-se a este. No entanto está bastante bom e o triste disto tudo é que apenas comparam ao livro e não se conseguem distanciar o suficiente para analisá-lo como filme. Quem dera a mais de metade dos filmes que saem todos os anos terem uma pequena parte da qualidade deste filme! Sim eu li o livro e é o meu livro favorito. No entanto há que separar as águas!
São pontos de vista que compreendo por completo. É essa a beleza do cinema :)
Cumprimentos, obrigado pela visita.
tinham-me dito que a violência psicológica da primeira parte era brutal e conhecendo Fernando Meirelles lá acreditei e encolhi-me a um canto. não sou masoquista e já me basta a tristeza da vida real para ainda pagar um bilhete de cinema e ficar mais triste... ehehehe
mas, no sabádo lá ganhei coragem para finalmente ir vê-lo.
às 3 da manhã ainda estava acordada, às escuras no meu quarto, a pensar no filme, no livro, enfim... na estória! no que realmente significa (e não na parvoíce de interpretação que as vozes de protesto fizeram)
mas continuo a achar que "Cidade de Deus" é o melhor de Meirelles.
Dona babada, experimenta agora pegar no livro e completa todos os sentimentos que sentiste. Quanto a Cidade de Deus, não entranhei o filme na altura da sua saída. Talvez com um revisionamento daqui a uns largos anos mude de opinião. Cumprimentos ;)
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