Isabelle (Noomi Rapace) é uma das funcionárias mais criativas da filial de Berlim de uma multinacional de publicidade sediada em Nova Iorque. Numa relação de intimidade estranha com a sua directora Christine (Rachel McAdams), Isabelle vê o crédito e o mérito de uma ideia sua - que se revelaria revolucionária no mercado dos smartphones - serem assumidos descaradamente por Christine, que sem dó nem piedade procura uma promoção para a agência mãe. Essa traição vai dar início a um jogo tão mórbido quanto erótico de jogadas moralmente questionáveis para tomar controlo da situação, colocando as duas executivas numa espiral perigosa de emboscadas e infidelidades que acabarão por as levar ao abismo.
Regresso ao activo do carismático Brian de Palma, autor aclamado de clássicos como “Scarface”, “The Untouchables” ou “Femme Fatale”, “Passion” é um remake algo desinspirado do não muito distante francês “Crime d’Amour”, do já falecido Alain Corneau. Mesmo com os temas do realizador que nos conquistaram durante décadas presentes, da traição aos gémeos inesperados, da troca de identidades ao ecrã dividido em momentos completamente antagónicos – neste caso, um assassinato e uma dança de ballet -, “Paixão” apenas provoca sensações fortes na última meia hora, desleixando-se enquanto thriller em toda a sua construção narrativa, brincando no final com reconstituições fundamentais para atrair o espectador para um guião tão desequilibrado quanto muito pouco erótico - uma maminha de Noomi Rapace não chega, querido Brian -, ao contrário do que tinha sido prometido por todo o trabalho de promoção da obra e, porque não, resultante das expectativas de uma carreira de mestria a esse nível por parte do realizador norte-americano.
Muito – e quase sempre bom – mise em scène, um leve toque hitchcockiano e muitos sonhos dentro de sonhos numa fita que, quando chega ao seu clímax audacioso, já criou demasiados anticorpos no espectador. A câmara de Brian de Palma arrasta-se agora onde um dia dançou – culpa talvez do baixo orçamento desta produção franco-germânica – e a forma como os diálogos fundamentais entre Rapace e McAdams manifestam-se dramaticamente ineficazes deixa o espectador a pensar se uma troca de papéis directa não teria sido uma melhor escolha de casting. O talento, do realizador ao elenco, está lá. Mas, ironicamente, falta paixão a este “Passion”.
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