Regresso ao activo do carismático Brian de Palma, autor aclamado de clássicos como “Scarface”, “The Untouchables” ou “Femme Fatale”, “Passion” é um remake algo desinspirado do não muito distante francês “Crime d’Amour”, do já falecido Alain Corneau. Mesmo com os temas do realizador que nos conquistaram durante décadas presentes, da traição aos gémeos inesperados, da troca de identidades ao ecrã dividido em momentos completamente antagónicos – neste caso, um assassinato e uma dança de ballet -, “Paixão” apenas provoca sensações fortes na última meia hora, desleixando-se enquanto thriller em toda a sua construção narrativa, brincando no final com reconstituições fundamentais para atrair o espectador para um guião tão desequilibrado quanto muito pouco erótico - uma maminha de Noomi Rapace não chega, querido Brian -, ao contrário do que tinha sido prometido por todo o trabalho de promoção da obra e, porque não, resultante das expectativas de uma carreira de mestria a esse nível por parte do realizador norte-americano.
Muito – e quase sempre bom – mise em scène, um leve toque hitchcockiano e muitos sonhos dentro de sonhos numa fita que, quando chega ao seu clímax audacioso, já criou demasiados anticorpos no espectador. A câmara de Brian de Palma arrasta-se agora onde um dia dançou – culpa talvez do baixo orçamento desta produção franco-germânica – e a forma como os diálogos fundamentais entre Rapace e McAdams manifestam-se dramaticamente ineficazes deixa o espectador a pensar se uma troca de papéis directa não teria sido uma melhor escolha de casting. O talento, do realizador ao elenco, está lá. Mas, ironicamente, falta paixão a este “Passion”.
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