Meia dúzia de minutos, uma mexicana jeitosa deitada na cama pronta para prestar serviço a sua majestade, e Bond sai pela janela para ir explodir um prédio velho. Quinze minutos depois, 007 visita o laboratório subterrâneo de Q, de onde sai com um aparente simples relógio que não faz nada mais do que mostrar as horas. Meia hora de filme e Craig tem Bellucci encostada à parede; "
vamos ver finalmente um corpinho jeitoso, uma lingerie sedutora, uns amassos valentes" pensamos nós. Nada disso, planos fixos dos ombros para cima de Monica, informação arrancada sobre uma reunião secreta, e "
corta" gritou Sam Mendes; segue-se plano de James a colocar o relógio, tendo presumivelmente levado a italiana à loucura durante a pausa para café da equipa de filmagens. Quarenta e cinco minutos, uma perseguição automóvel nas ruas de Roma com um Aston Martin e um Jaguar, deliramos na expectativa de saber qual será o gadget automóvel que salvará o dia ao agente de Ian Fleming. Pois bem, o DB10 britânico não está armado, resta acompanhar um encalço rodoviário como se de uma sequela do chauffeur de Jason Statham se tratasse. Ah, esperem, afinal havia um pára-quedas e um lança-chamas, menos mau. Metade do filme já foi, Bond está com sede, o que pede? "
Vodka Martini, shaken not stirred". Festejo jubilosamente no interior, finalmente a lenda é respeitada. Mas... mas... oh porra, o bar não serve bebidas alcoólicas. Perceberam a ideia ou é preciso continuar? Estes Bonds de Sam Mendes têm pinta, são excelsamente bem filmados e editados, mas de mística e tradição têm muito pouco. O que os difere então da catrefada de filmes de acção que por aí andam, de Jason Bourne aos justiceiros de Liam Neeson? Quase nada. Isso faz de "
Spectre" um mau filme? Não. Mas transforma-o num capítulo banal e momentâneo da longa saga de um ícone cinematográfico e cultural que nos habituou a vilões extravagantes, cenas de acção com muito mais temperamento e humor do que músculo e explosões em massa, narrativas com muito mais flirts do que paixões para a vida, Bond Girls muito mais activas do que passivas. Em suma, está na hora de Mendes e Craig passarem o testemunho.
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