domingo, janeiro 08, 2023

Paroxismus (1969)

Uma trompeta enterrada na areia turca de Istambul, recuperada pelo mesmo homem que a lá colocou não sabe bem como nem porquê. Uma mulher morta - nua, claro - que dá à costa enquanto James Darren toca a sua trompeta em slow-motion. De onde a conhece? Terá sido daquela festa de jet set na semana passada - mês passado ou até ano passado - em casa de um playboy milionário, o the one and only Klaus Kinski? O tempo é como um oceano, tudo leva, tudo trás. De repente, Rio de Janeiro, o seu famoso carnaval e uma mulher que canta "É Agora ou Nunca" deitada no chão, num vestido repleto de brilhantes. Decidi que era agora e não nunca, até porque há que respeitar o Nalgas Film Club e os quase duzentos filmes do mítico Jess Franco não se vão ver sozinhos. Um ou duzentos, logo veremos. Slow-motions e imagens distorcidas em ondas, qual hipnotismo e paixão que não tem explicação. Estarei morto, estarei vivo, estarei a sonhar? É assim o amor, um fogo que arde sem se ver, ora loira ora mulata, uma ferida de chibatada que dói e não se sente, um contentamento de trompeta descontente, uma dor que desatina num chupanço de sangue sem doer. O casaco de peles que tapa o paraíso e destapa o inferno, a mão que acaricia a mama ou uma estátua em vez de embalar o berço, uma visão muito própria do clássico literário de Sacher-Masoch - o seu apelido deu origem ao termo masoquismo -, uma história de amor sobrenatural e vingança de uma fantasma sobre aqueles que tiveram envolvidos na sua morte. Um mão-cheia de cenas memoráveis - personagens congeladas no tempo e no espaço enquanto uma única circula entre elas, jogos de reflexões em espelhos, a cena da almofada de penas ou a reviravolta final na praia - e demasiada ousadia e classe - visual mas também, e sobretudo, musical e sonora - para tão baixo orçamento. Caramba, pelo menos mais um ou dois vai ter que ser, Jesús!

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