quinta-feira, outubro 27, 2005

Wag the Dog (1997)


Realizado por Barry Levinson ("Rain Man", "Sleepers", "Good Morning Vietnam"), "Wag the Dog" é uma das mais duras sátiras já feitas ao sistema político americano. Pena foi, que devido a diversos rasgos de genialidade que nos fizerem esboçar largos sorrisos, "Manobras na Casa Branca" (ai este facilitismo infeliz das traduções) se afastasse demasiado da realidade, criando situações extremas, que na vida real seriam mesmo impossíveis de esconder. Se como sátira, as diversas ideias e planos funcionaram eficazmente, o enredo em si ficou a perder totalmente. Ou seja, quando o filme passa de situações satirícas pausíveis para uma sátira pura e crua, o argumento perde toda a lógica e passamos puramente a assistir a um "desafio" ao poder. Não é mau de todo, mas Levinson poderia ter tentado encontrar um equílibrio e fazer algo memorável.

O argumento parece que preveu o que mais tarde viria a acontecer com Bill Clinton: um presidente à beira da reeleição é envolvido num escândalo de abuso sexual de uma rapariga que visitava a Casa Branca. Não se chega a saber se o episódio é verdadeiro – porque o que conta é a percepção –, como não se chega sequer a ver o presidente propriamente dito. O protagonista é o marketing, o dominío dos "media" sobre o povo.

Num primeiro momento, é chamado um “Mr. fix-it” (Robert de Niro), o consultor de imagem das situações apertadas, que, para começar, decide adiar por 24 horas o regresso do presidente, na altura em viagem oficial à China. Justificação? Dizer que tem uma gripe e desmentir ele próprio, assim do nada, que o verdadeiro motivo do adiamento se deve a uma negociação difícil sobre bombas nucleares. A repercussão é imediata e mediática: o desmentido cria o rumor de um problema grave nuclear. E assim do nada lá foi a notícia do escândalo sexual para segundo plano. O problema é que uma suposta negociação dura apenas um ciclo noticioso e as eleições estão a dez dias de distancia. O que fazer? Uma guerra na TV. Como? Contratando um produtor de Hollywood (Dustin Hoffman). E assim temos durante 10 dias uma guerra que verdadeiramente não existe, mas que é acompanhada nos telejornais norte-americanos e que fortalece a necessidade da continuidade do actual presidente norte-americano. Presidente de País em guerra, dizem os compêndios, tem a vitória assegurada. A Nação une-se em torno do líder, as sondagens tornam-se mais optimistas, a reeleição é canja. Ponto final parágrafo!

Com um elenco de luxo, todos com representações seguras, uma ideia forte e vários momentos de genialidade, podemos afirmar então que "Wag the Dog" poderia mesmo ter sido brilhante a todos os níveis. Não o foi, mas a mensagem foi clara e passou ao público: as aparências iludem!

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