
A resposta é não! É a mais pura das verdades que Spike Lee consegue juntar um argumento engenhoso, um humor subtil, óptimas representações, uma montagem eficiente e um ponto de partida sem dúvida interessante em “Infiltrado”, mas tudo isso por vezes não basta quando finda o filme e pensamos cá para nós: “Ok, isto foi inesperado q.b mas e então?”. Se estilo não falta ao novo filme de Spike Lee, também não é mentira se dissermos que o argumento poderia ter dado para muito mais. Mais quebra-cabeças, mais diálogos profundos e com classe, mais invenções de realização e por aí adiante.
Agarremos por exemplo na personagem de Jodie Foster. Será que todo o conceito e importância da mesma não poderia ter dado para mais do que 5 ou 6 minutos “on-screen”? Aliás, mesmo as personagens de Denzel e Owen são extremamente mal estudadas e aprofundadas. As suas razões e motivações são pinceladas muito levemente e toda a intriga acaba por cheirar a falsidade. Se tudo isto tivesse acontecido nas mãos de algum realizador estreante ou menos dotado, era desculpável e “Inside Man” até seria um bom exercício de estudo e de esperança futura. Agora das mãos e cabeça de Spike Lee esperamos sempre muito mais, o que torna mais fácil a critíca negativa.
Aliás, o próprio Spike Lee sabe que a principal razão do seu sucesso foi sempre ter sabido mexer, de uma forma ou de outra, com o interior dos seus “súbitos”. Fosse qual fosse o assunto, Lee tocava, inquietava e deixava o espectador a pensar quando saía da sala de cinema. E com este “Inside Man”, é mais do que óbvio que Spike Lee puramente não se preocupou com isso. Não reinventou o género para um estilo mais próprio e encontrou a mediania desnecessária conservadorista, necessária entretanto para encher, mais do que é normal, os bolsos. Será que tal como tantos outros o fizeram, Lee também rendeu-se ao “monstro” do dinheiro?
Longe de ser um mau filme, “Infiltrado” também não é um filme fora do vulgar. É um filme para massas de um realizador que por norma nos habituou a algo mais restrito e pessoal. A sua (bem como a de Denzel e Clive) energia não é suficiente para adoçar a verdadeira amargura que foi esperar tanto e ter tão pouco de Spike Lee. A todo a obra falta a subtileza de outros tempos, os momentos profundos de reflexão (Edward Norton, 25th Hour anyone?) e a paixão clara pelo assunto em causa. Esperemos então pelo próximo para descalçar esta pequena pedra do sapato.

2 comentários:
Vejo que concordas comigo relativamente a este filme :). Boa análise!
Abraço
Mário e Helena, obrigado pela passagem. Pelos vistos não fui o único desiludido com o filme.
Cumprimentos.
Enviar um comentário