A rivalidade entre dois ilusionistas na Inglaterra vitoriana ganha proporções preocupantes. Na ânsia de desmascarar os truques um do outro - em forma de vingança pessoal por alguns acontecimentos trágicos - e de apresentar números cada vez mais impressionantes, os mágicos colocam em perigo a vida de todos os que os rodeiam. O poder da obessesão como ele muitas vezes é: trágico.
A forma de narrar de “O Terceiro Passo” é, em sim mesma, um truque dividido em três passos. Somos presenteados, tal como nas artes mágicas, com um início que se parece vulgar mas não o é. De seguida, somos durante mais de hora e meia ludibriados com uma actuação fantástica que torna extraordinário o vulgar. Por fim, e tal como obedece o mágico terceiro passo, o clímax, em que o efeito da ilusão é produzido e o espectador finalmente bate palmas.
Como habitualmente em Nolan, a narrativa não se desenrola de forma cronologicamente ordenada. Deixando pistas aqui e ali para desnortear o espectador, só o mais atento, tal como perante um truque de magia, percebe o que é “fogo de artifício” e o que é realmente importante e essencial. Repleto de reviravoltas e com um argumento excelentemente bem trabalhado, “The Prestige” acaba mesmo por alcançar o estatuto de filme de veneração dupla. Isto porque deixa aquela necessidade e vontade no cinéfilo de rever novamente toda a intriga, desta vez sabendo as artimanhas usadas.
Com um elenco severamente minuncioso, acaba por ser difícil destacar um nome em particular. Tanto Hugh Jackman como Christian Bale cumprem com mestria o que lhes é pedido e Michael Caine acaba por ser a balança despretenciosa entre a dupla. Mas como diz o ditado, no final a balança nunca resiste a pender para um dos lados. Scarlett Johansson continua a sua epopeia quantitativa, aceitando papéis secundários que ofuscam a sua qualidade representativa. Esperemos que “Scoop”, do meu muito respeitado Woody Allen, inverta novamente uma tendência que parece não ter fim: para 2007, Scarlett já tem presença marcada em quase meia dúzia de obras de qualidade duvidosa.
Mas o que mais destaco em “O Terceiro Passo” é a homenagem justa e merecida, baseada em factos reais, a um dos maiores e mais incompreendidos génios que este planeta já viu. Falo de Nikola Tesla (interpretado por um excelso David Bowie e que acaba por ser a maior e superior surpresa do filme), perseguido durante décadas por ser demasiado visionário e que quando apresentou a tecnologia de radar e de corrente alternada, completamente inovadoras na sua época, foi perseguido por Edison e restantes membros científicos da altura, que o acharam lunático e um risco para a ciência. E porque o conhecimento nunca é demasiado, sigam este endereço para saberem um pouco mais sobre a vida de Tesla.
Em suma, “The Prestige” é uma obra que não merece escapar dos cinemas sem um visionamento. Apesar de perder alguma notoriedade e fulgor por não tocar emocionalmente o espectador, é portentosamente bem estruturado e um verdadeiro doce de reviravoltas inesperadas. E com um elenco destes, “O Terceiro Passo” só poderia ser mesmo entretenimento garantido.
8 comentários:
The Prestige é genial, aqui no Brasil ele chama-se O Grande Truque.
Mas não fazia ideia de que Nikola Tesla era uma personagem real. Obrigado pela informação e pelo link elucidador.
abs
Aqui está ela.. :)
Como já sabes, concordo, e digo que também a mim me "caiu tudo" quando foi mencionado o nome de Tesla. Em todas as críticas, resumos e artigos que tinha lido sobre o filme (e ainda foram alguns) não tinha visto qualquer menção ao enigmático cientista! Foi um grande e agradável surpresa, que dá uma dimensão muito especial ao filme, esbatendo de certo modo a linha entre a realidade e a ficção.
Li também as acusações de falta de emoção, de calculismo absoluto e ausência de pontos de identificação emocional com o espectador, mas penso que essa racionalidade fria e cerebral é o que Nolan faz melhor, e sabe extremamente bem ver um quebra-cabeças tão soberbamente construído..
Desculpa-me a verborreia, Knox, mas este tipo de filmes tornam-na inevitável.
Cumprimentos! ;)
LeStrange no Wordpress
É um filme engenhoso e bem arquitectado, sim, mas deixou-me quase sempre distante das personagens, e o virtuosismo do Nolan não chega para que o filme me convença por completo.
Museu do Cinema, não tem nada de agradecer. Estamos sempre a aprender. Seja a escrever, seja a ler. Um abraço.
Bárbara, acredito que não haja menção a Tesla porque poucos realmente sabiam quando o viram no filme de que ele foi real e brilhante. Gostei bastante do teu comentário, obrigado pelo tempo e paciência. Cumprimentos :)
Gonçalo, para perceber a tua opinião nada melhor do que passar pelo teu blogue. Está bem explicada e no cinema não há verdade nem razão. Existem opiniões. Um abraço!
Ainda não vi, mas estou com imensa curiosidade de o ver! Até para o mais quando esta semana que passou fui de encontro com mágicos portugueses :P - Para ver Domingo à noite (hoje) na SIC, no Jornal da Noite.
Por enquanto, tenho o "The Illusionist" para ver também, este talvez esta noite...
Já não fui a tempo Edgar :( Um abraço!
Helena, falta de facto qualquer coisa a The Prestige (daí não levar as cinco estrelas), mas não deixa de ser genial quanto a mim. É verdade que não prende o espectador de forma inequívoca, mas não é apenas uma boa ida ao cinema :P Cumprimentos!
Afinal de contas ainda vais a tempo! :P
Eu fiquei pendurado, não chegou a dar... Talvez para o próximo fim de semana.
Mas The Illusionist já o vi e recomenda-se. Embora um pouco melancólico e com falta de "personagens", os actores que tem preenchem o ecrã. Ah, e temos final surpreendente ;) É cá dos meus!
A recepção ao "Ilusionista" foi tão negativa por quase todo o lado que deixei para depois. Mas até estou com vontade de o ver, nem que seja para comparar com este "Terceiro Passo".
Um abraço Edgar.
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