terça-feira, fevereiro 13, 2007

Rocky Balboa (2006)

“Let me tell you something you already know. The world ain't all sunshine and rainbows. It is a very mean and nasty place and it will beat you to your knees and keep you there permanently if you let it. You, me, or nobody is gonna hit as hard as life. But it ain't how hard you hit; it's about how hard you can get hit, and keep moving forward. How much you can take, and keep moving forward. That's how winning is done. Now, if you know what you're worth, then go out and get what you're worth. But you gotta be willing to take the hit, and not pointing fingers saying you ain't where you are because of him, or her, or anybody. Cowards do that and that ain't you. You're better than that!”

Vamos começar por deixar algo bem claro: “Rocky Balboa” é o melhor filme da saga desde a obra original, - que levou o Óscar para casa - e arrecada, com larga distância para qualquer outro, o estatuto de fita cinematográfica de Stallone com maior sensibilidade e coração. E este parágrafo de introdução é o esbanjar de uma vida. A vida de Stallone, a vida de Rocky. Porque um e outro são indissociáveis. Porque o inglês arranhado de Balboa não impede que aquele coração mole amanteigue também o nosso. Porque a pressão exterior do meio e da indústria não obstruiu Stallone de voltar a executar uma obra como nos velhos tempos, cheia de paixão e inocência. “Rocky Balboa” não é um filme de boxe, é sim um impulso auto-retratista, de um repentismo entusiasmante, instigado pela solidão, e que vem, de certa forma, pedir “desculpa” por todas as sequelas que apesar de cativantes, arruinaram por demasiadas vezes o próprio espiríto e lema de Rocky.

Cinematograficamente, “Rocky Balboa” tende para a mediania. Usa e abusa do formato “Televisão em Directo”, não se preocupa com a repetição de planos e desiquilibra as três fracções de qualquer filme de Rocky: a razão/sentimento, o treino e o combate final. Temos apenas cinco minutos de treino (cinco minutos bombásticos, acompanhados por um “Gonna Fly Now” em orquestra absolutamente delicioso) e o combate final é mediocremente mal aproveitado em termos físicos. Mas quem precisa de tudo isto, quando temos perante nós um filme carregado de sinceridade por parte de Stallone, que disfarçadamente faz a relação entre a situação de Rocky como “animal preso” e a sua própria vida real enquanto actor? Ninguém. “Rocky Balboa” é humano enquanto filme, e isso chega e sobra. Trata a vida como um bem precioso mas cruel, que golpeia-nos a todos mais tarde ou mais cedo e isso toca o espectador. Honestamente, não me lembro da última vez que fui ao cinema e vi uma sala cheia a bater palmas durante o filme, a cantar o seu tema principal, e a sair da sala com uma lágrima no canto do olho. Não me lembro, porque nunca tinha acontecido. “Rocky Balboa” foi, por tudo isso, uma experiência única.

Stallone agarra-nos como nunca com um coração enorme que esconde e desculpa todas as falhas enquanto realizador e mesmo, como actor. E Sylvester Stallone é, ele mesmo, uma história de vida com um “knock-out” vitorioso ao fim de alguns rounds. Nasceu com um nervo facial destruído, que lhe paralisou parte dos lábios, da língua e do queixo, deixando-o com aquele olhar e falar à pedrada que o transformaram num mito. Com pouco mais de 10 anos, a “escola para deficientes” que frequentava colocou na sua ficha que o seu desfecho mais provável seria a pena de morte. Ao fim de uma vida (já lá vão 60 anos), Stallone é o que é. E mais uma vez, remete-nos para o parágrafo inicial. Porque “You, me, or nobody is gonna hit as hard as life. But it ain't how hard you hit; it's about how hard you can get hit, and keep moving forward. How much you can take, and keep moving forward. That's how winning is done.” Porque “Rocky Balboa” mais do que a própria história de Rocky Marciano, é a história de Stallone, Sylvester Stallone. E talvez tenha sido pela sua dedicação a Rocky, que Sly nunca conseguiu ser um actor aceite como tal. Porque, e citando Vasco Câmara, Stallone não o faz como nos anos 70, Stallone “é” os anos 70.

Em suma, “Rocky Balboa” é a despedida de um clássico que marcou gerações. É uma história de coragem e esperança, que apesar das diversas falhas, acaba por ser aplaudido pelos mesmos que o assobiaram aquando do seu aparecimento enquanto projecto. É um Rocky sincero e humilde que “encaixa” um forte gancho de direita em todos aquelas que o previam na lama. E um valente abraço a todos aqueles, que tal como eu, cresceram a respeitar e a adorar “Rocky/Sylvester” como símbolo de vitória e sucesso perante a mais díficil das adversidades. E é nesta altura que sinto a necessidade de retribuir aquela arrepio na espinha ao ouvir “Gonna Fly Now” - não se percebe a razão pela qual esta nova versão não consta nos nomeados da Academia para melhor canção – durante “Rocky Balboa”. Porque mesmo sem merecer enquanto filme solitário, estas cinco estrelas premeiam muito mais do que isso. Premeiam uma vida, uma geração, uma saga inesquecível. “Adrian... we did it!”.

23 comentários:

Dário Ribeiro disse...

Já o tinha ido ver e criticado na semana passada. Estamos em sintonia em muita coisa, até na deixa final das críticas! :0))

É em quase tudo um regresso ás origens, à humildade, à sinceridade e á bondade da personagem Rocky Balboa. No entanto, continuo a preferir o original, que arrecada para mim as 5 estrelas. Este, sendo bom, sofre algumas fragilidades que não se notam no primeiro e que me levam a atribuir-lhe 4. ;0)

Anónimo disse...

O que parecia revivalismo idiota está a mobilizar muitas emoções, este comeback do Rocky/Stallone vai ficar na história, de certeza...
Mal posso esperar pelo biopic do Stallone daqui a uma ou duas décadas! :P

Bj*

Carlos M. Reis disse...

Dário, com objectividade e uma certa imparcialidade, deixando de lado a emoção de uma vida a ver Rocky e da admiração pessoal pela história de vida de Stallone, este "Rocky Balboa" nunca levaria mais do que umas modestas 3 ou 4 estrelas. Tal como mencionei tem diversas falhas e pontos fracos. Mas, neste caso, não me interessou minimamente. Lembro-me de ver a tua critica antes de ver o filme e como tal não a li, mas vou já passar pelo teu cantinho. Um abraço.

Bárbara, eu espero que Stallone ainda fique por cá muitos anos. Que lhe concedam toda a glória que merece enquanto estiver vivo. De prémios póstumes deve estar ele farto (para quem não sabe, ele era o favorito para o Óscar de melhor actor por Rocky, em 1976 e perdeu a corrida para Peter Finch, que morreu alguns dias depois das nomeações e dizem as más linguas (inclusivé a minha) que apenas ganhou como forma de reconhecimento eterno.)

Beijinhos, obrigado pela visita :)

André disse...

Mais um fã de Rocky...embora ainda não tenha visto este último filme.

Parabéns por este post. Está de facto muito bem escrito. Tudo o nos passa pela cabeça sobre esta saga está aqui escrito e o remate final é soberbo.

"Adrian...we did it!"

Anónimo disse...

A ver se o vejo esta semana! Abraço!

Anónimo disse...

Finalmente alguém que vi o filme como eu. Adorei Rocky Balboa, principalmente a crítica que Stallone faz aos falsos ídolos de hoje e dessa indústria de efeitos visuais hipócritas que acabou com grande parte do verdadeiro cinema. Valeu, Sly, só você mesmo! A cena dele correndo e subindo as escadas para imortalizar o gesto que marcou uma geração, só que desta vez ao lado de um cachorro, é bárbara!

(http://claque-te.blogspot.com): Perfume - A História de um Assassino, de Tom Tykwer.

triss disse...

Knoxville até fiquei com um nó na garganta.
Ainda não vi o filme, e estava um bocadinho céptica, mas depois do teu post...
:-)

Carlos M. Reis disse...

André, então vai ver o mais rápido possível, e se possível, com sala cheia (ou seja, uma sexta ou sábado à noite). Obrigado pelos elogios :) Um abraço.

Ricardo, depois diz qualquer coisa :) Cumprimentos!

Roberto, obrigado pela visita. Cumprimentos.

Triss, atenção, não vás com altas expectativas. O grande sucesso do filme parte disso mesmo: de ninguém esperar nada de um sexto filme de uma saga :) Cumprimentos!

Anónimo disse...

Então?! eu falei em biopic, não falei em biopic póstumo! Tu é que já estás a matar o senhor antes do tempo! :P Eu estava apenas a referir-me à riqueza de acontecimentos que há na vida desse homem e realmente não me admira nada que venha a ser feito um biopic, mesmo antes (muito antes) da "hora" dele chegar!

Alex disse...

Os meus parabens pelo comentario, concordo plenamente, está muito bem escrito!

Saudações Cinefilas

http://cinealex.bravehost.com

Anónimo disse...

Para mim Stalone acertou em cheio com Rocky Balboa, e concordo plenamente com seu comentário. Já é, a muito tempo, uma lenda na história do cinema.
abraço!

Carlos M. Reis disse...

Bárbara, tens toda a razão. Mas então porquê só daqui a uma ou duas décadas e já não este ano? :P Beijinhos.

Alex, obrigado pelas gentis palavras. Cumprimentos.

Felipe Nóbrega, sem dúvida alguma. Um abraço.

Pure_Water disse...

Só espero depois é que saia um boxset com os dvd's tods, ja com este incluido :D

Carlos M. Reis disse...

Sim, não deve tardar nada. Um abraço Pure.

CP disse...

Boas. Muitos parabéns pela crítica muitissimo bem escrita. Concordo plenamente com ela.
Gostaria, se tiveres (ou tiverem) paciência, que me explicassem algo que os críticos americanos nunca escrevem: porque é que "ÓSCAR" é um péssimo filme? Sinceramente tive pena que a vida hollywoodesca não fosse mais feliz para Stallone. Sempre achei que ele merecia muito mais do que teve. Pego no filme "óscar" porque foi a tentativa de Stallone de tentar outro formato (a comédia) e, na minha opinião, Óscar é um filme que diverte sem ser bacoco e onde Stallone, não brilhando muito faz um optimo papel...
desculpa o off-topic mas se me puderem explicar agradecia.

Carlos M. Reis disse...

Nunca vi o "Óscar" de John Landis, mas confio que seja uma boa obra, ou não tivesse sido Landis o responsável por uma das comédias mais deliciosas da minha infância: "Three Amigos".

Cumprimentos CP, obrigado pela visita.

Anónimo disse...

muito dramático...
muito irreal...
muito visto...

stalonne nunca foi um bom actor e com a carga dramática que ele próprio deposita neste filme não era de se esperar mais do que uma má interpretação...

mason"the line"dixon como campeao de boxe não passa de um franganote que é quase vencido por um homem de 50 anos...

já é o SEXTO FILME DA SÉRIE...
acho k já começa a cansar...

abraço
Jackie Brown

Carlos M. Reis disse...

Stallone não é um actor, é um personagem à parte. Dificilmente encontrarias melhor para o papel de Rambo ou Rocky, como dificilmente o colocarias num papel de De Niro, Harrison Ford ou outro qualquer.

Se é bom actor? Talvez não o seja. Se emana virilidade e paixão pelo que faz por todos os poros? Sim!

Um abraço!

Rui Francisco Pereira disse...

talvez no primeiro rocky, stallone até estivesse bem, mas para os outros da saga; os rambo ou os outros filmes do género que stallone fez, um jet li ou um steven seagal seriam suficientes

sem duvida que emana paixão pelo que faz, mas mau era se não o fizesse...
todos os actores o fazem...

este filme é como uma ultima tentavia de stallone em reviver o passado, pois ele próprio tem noção quem entrou num estado de decadencia absoulta...
enfim...

abraço!

Carlos M. Reis disse...

Não concordo. Aliás, acho completamente despropositado, apesar de compreensível à primeira vista, comparar Stallone com Seagal ou outro qualquer. A sua vida, a sua luta pelo sucesso (que passou por escrever ele próprio muitos dos seus filmes, entre eles, Rocky, coisa que muitos poucos o fizeram ou conseguiram com êxito), a sua força de vontade. Eu gosto de Stallone. É um cão rafeiro, daqueles de canil, fiel ao seu público e às suas virtudes e defeitos.

Um abraço!

Anónimo disse...

n é completamente despropositado nao

talvez stallone não tenha tido muita sorte na sua carreira mas também fez muitas más escolhas

não nos podemos esqueçer de "filmes" como:rambo I,II,III;
Cobra;Stallone Prisioneiro;Pára ou a mamã dispara; homem demolidor;o especialista;assassinos;panico no tunel;D-Tox e muitos outros

stallone tem a sua carreira baseada em filmes rascas como estes

rocky I não passou de ume excepcção, de um bom trabalho que foi recompensado,nada mais

se não fosse rocky(refiro-me só ao primeiro!) stallone era um steven seagal ou um jet li ou um chuck norris

devido ao rocky stallone é mais do que eles, mas pouco mais, mesmo muito pouco mais

é preciso saber distinguir o cinema de um filme

mas se essa é a tua opinião, eu respeito-a sem dúvida
contesto-a, mas respeito-a

um grande abraço!

jackie Brown

Carlos M. Reis disse...

Ainda bem que não estamos sempre de acordo, senão não tinha piada ;) Um grande abraço Jackie!

Anónimo disse...

depois de mais de um ano do filme e de ter assistido a pelo menos umas vinte vezes, gostaria de aqui deixar meus humildes comentários...estes, feitos por um conhecedor e admirador da saga, Rocky Balboa.

SENSACIONAL
BÁRBARO
FANTÁSTICO
ÚNICO

UMA VERDADEIRA LIÇÃO DE VIDA....

que o pensamento que abriu esta matéria/ crítica seja repetido, lembrado e respeitado por todos e para sempre.

sem mais.

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