Harry Caul (Gene Hackman) é um eremítico, triste e paranóico técnico de vigilância que se sente muito mais à vontade colocando escutas a estranhos do que a conviver com amigos num mesmo espaço. Repleto de segredos que ninguém parece conseguir descobrir, Harry passa os dias no seu apartamento a tocar saxofone ao som dos seus discos de jazz, numa moradia “à prova de escutas”, onde três fechaduras, um alarme e a ausência de um telefone comprovam a consciência perturbada de alguém que teme ser vítima das suas próprias criações. E a situação vai chegar ao extremo, quando num dos seus trabalhos de rotina, Harry pressente uma tragédia iminente resultante das suas escutas. Mas será que as duas coisas que mais confia neste mundo – os seus olhos e os seus ouvidos – o irão enganar?
Inpirado em “Blow Up”, de Antonioni, “O Vigilante”, de Francis Ford Coppola, é um filme inquietante. Isto porque toda a sua narrativa é uma prosa aberta ao conhecido provérbio “o feitiço contra o feiticeiro”, em que a personagem de Hackman - talvez no mais notável desempenho da sua carreira, com um papel nitidamente interiorizado – torna-se vítima da mesma moderna tecnologia que usa para derrubar e transtornar a vida dos outros. Com alguns pormenores que denotam e confirmam um assombroso estudo psicológico sobre a obsessão e a solidão, Francis Ford Coppola alcança em “The Conversation” uma extraordinária subtileza, articulada por vezes com um ironismo tão negro como paranóico (que, diga-se, é praticamente o que sentimos ao ver Harrison Ford na plenitude dos seus trintas).
Realizado entre os dois primeiros capítulos de “The Godfather”, e com recursos extremamente limitados, “O Vigilante” consegue deixar a sua marca no mundo do cinema graças ao seu “twist” final arrebatador, – apesar de nos dias que correm ser constantemente banalizado – que arrasta por definitivo a personagem de Hackman para uma esfera de fragilidade psicológica e social degradante. E essa atitude centrada no intímo, em plena miscelânea com a inspiração em Antonioni e os recursos limitados, permitem afirmar que esta tenha sido, talvez, a obra mais “europeia” de Coppolla. E muito provavelmente, o seu filme mais premonitório, ou não fosse a questão levantada em “The Conversation” um dos temas centrais da opinião pública nos últimos anos e nos nossos dias.
4 comentários:
Sabes se está editado em Dvd? Num BOM Dvd (ou seja com comentários audio muahahah!) em especial? :P
Sim, comprei no MediaMarkt de Benfica por 7 euros e qualquer coisa, com comentários áudio tanto de Coppola, como do responsável pela Montagem.
Um abraço CP.
MediaMarkt? NICE!
Obrigadão rapaz!!
:) Um abraço!
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